Dom e Bruno ao encontro de Chico e Irmã Dorothy

José Osmir Bertazzoni

 

O indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram mortos à queima-roupa e seus corpos esquartejados, incendiados e enterrados em uma área próxima a um igarapé, quase no limite da terra indígena Vale do Javari, em Atalaia do Norte, no Amazonas. O que não gostaríamos que acontecesse infelizmente aconteceu, mais mortes para os que ousam defender e proteger os povos indígenas e a preservar a Amazônia.

Dom e Bruno,assim como Chico Mendes e a Irmã Dorothy Mae Stang (conhecida como Dorothy Stang (também sacrificados pela falta do Estado), tornaram-se vítimas da violência em uma das áreas mais ricas de preservação do planeta.Entre 1987 e 1988, Chico Mendes foi um seringueiro, sindicalista, ativista político brasileiro premiado por seu ativismo, recebendo o Global 500 da Organização das Nações Unidas (ONU), na Inglaterra, e a Medalha de Meio Ambiente da Better World Society, nos Estados Unidos; porém sua vida foi ceifada em 22 de dezembro de 1988, exatamente uma semana após completar 44 anos. Chico Mendes foi assassinado com tiros de espingarda no peito, ao sair de sua casa. Transcorreram-se mais de 30 anos desde a morte de Chico; Bruno, provavelmente, teria à época entre seis e sete anos de idade quando isso aconteceu e jamais imaginou que seu fim seria semelhante.

Dorothy Mae Stang, foi uma religiosa estadunidense naturalizada brasileira, membra da Congregação das Irmãs de NotreDame de Namur. Ela foi assassinada em Anapu, no estado do Pará, na Bacia Amazônica do Brasil.

O Vale do Javari, mil quilômetros a oeste da cidade de Manaus, a caminho de Atalaia do Norte, é um gigantesco território indígena que serve de refúgio para cerca de trinta tribos isoladas e é sistematicamente invadido por caçadores criminosos e garimpeiros ilegais (também criminosos). A Região também faz parte das rotas internacionais do narcotráfico, fazendo fronteira com o Brasil, com o Peru e a Colômbia.

Segundo informações, Phillips foi até a Região para pesquisar conteúdo de um livro que estava preparando. Bruno, indigenista independente, estava acompanhando Don e trabalhava para o Jornal The Guardian; era ativista e colaborador do Observatório dos Povos Isolados (OPI), depois de ter trabalhado por muitos anos na Fundação Nacional do Índio.

Os suspeitos da morte são dois irmãos, Oseney e Amarildo da Costa, ambos pescadores criminosos, porém não se sabe o motivo que os levou a atacar com tiros de armas de uso exclusivo das forças armadas os pesquisadores indefesos e nem a mando de quem realizaram tal crime.

Breve ressalva: já apareceram outros cinco suspeitos envolvidos nas mortes, totalizando oito presos até o momento e podem chegar a mais de dez, caso eles resolvam entregar os mandantes, o que pode acontecer a qualquer momento, segundo fontes ligadas as investigações, ou seja, diferente do que diz a própria Polícia Federal que por razões estranhas oculta esta organização criminosa.

A Univaja (União dos Povos do Vale de Javari), que reúne todas as etnias do vale, emitiu uma declaração junto com a Apib, que reúne as organizações indígenas do Brasil, e o Observatório dos Povos Indígenas (OPI) na qualsão descritos estes dois assassinatos como “mais um crime político (…) que leva à Bolsonaro e é uma consequência da política destrutiva de seu governo” contra os povos indígenas e a preservação da floresta Amazônica.

Segundo a Polícia Federal, ambos foram “Executados, despedaçados e queimados”. Assim, Dom Phillips e Bruno Pereira teriam morrido no Vale do Javari. Os dois pescadores realizavam pescas ilegais do precioso pirarucu, um gigantesco peixe amazônico requisitado pelos narcos que operam naquela região como fonte de alimentação. Um ecossistema criminoso é o que existe hoje na Amazônia, fortemente desejado pelo atual presidente Jair Bolsonaro que, pedaço por pedaço, demoliu a proteção ambiental em todo o Brasil, tornando-se o campeão de garimpeiros ilegais, traficantes de madeira, pedras preciosas, pescadores e caçadores ilegais ou melhor, criminosos como se deveria realmente denominar.

O “passar da boiada” debatido na reunião ministerial do governo Bolsonaro e defendido pelo Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, aproveitando a notoriedade absoluta do tema Covid-19 nas redes nacionais de comunicação, seria, segundo Salles, a hora de fazer uma “baciada” de mudanças nas regras ligadas à proteção ambiental e à área de agricultura e evitar críticas e processos na Justiça. “Tem uma lista enorme, em todos os ministérios que têm papel regulatório aqui, para simplificar. Não precisamos de Congresso”, disse o ministro do Meio Ambiente. (Este material integra o inquérito que investiga suposta interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal).

Para a indignação do mundo civilizado, são muitas as acusações que apontam o dedo para as políticas promovidas pelo presidente Jair Messias Bolsonaro a fim inaugurar uma nova “conquista” das terras indígenas amazônicas e também para sua óbvia falta de empatia com o destino de Dom e Bruno. De fato, o próprio Bolsonaro declarou que os dois profissionais haviam embarcado em uma aventura desonrosa, viajando pelo Vale do Javari onde se vive um verdadeiro “Velho Oeste”, promovido justamente por suas políticas.

Todos nós, brasileiros ou não, que tenhamos o mínimo de indignação com os crimes que veem sendo promovidos contra a soberania do Estado Brasileiro em proteção às milícias, ao crime organizado, crimes de garimpo ilegal, pesca ou caça predatória em territórios protegidos pela nossa Carta Magna Brasileira,encontramos motivo de repúdio ao atual governo.

Por derradeiro, solidarizamo-nos com as famílias dos jovens Dom e Bruno, rogando a Deus para que todas essas angústias e barbáries sejam eliminadas do sagrado Solo dessa Nação. Chega de ódio, chega de Bolsonaro.

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José Osmir Bertazzoni, jornalista, advogado

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