Minha idade não me define

José Renato Nalini

A longevidade trouxe coisas novas para o convívio. Hoje é comum a convivência de cinco gerações no mesmo espaço de trabalho. Cada geração tem uma expectativa. As empresas contemporâneas sabem que a experiência é um patrimônio intangível. Civilizações consolidadas e mais sábias, principalmente as orientais, sabem que o idoso pode transmitir melhor um conhecimento útil aos jovens, do que a maior parte das escolas.

É próprio de um país periférico, de desenvolvimento atrasado, ou subdesenvolvido, desprezar a maturidade e a velhice. Aquela volúpia de substituir coisas antigas, consideradas ultrapassadas, é própria de mentalidades superficiais. Jogar velho em asilo é uma ignorância danosa.

Os idosos têm paciência para se valer das mais modernas tecnologias. Apropriaram-se das competências com as quais os jovens praticamente já nasceram. Aprenderam, por exemplo, a trabalhar em casa. O home office era uma novidade, algo exótica, há alguns anos. Hoje é rotina.

O trabalho remoto oferece produtividade maior. A flexibilidade é um desafio. Todos os que experimentaram trabalhar à distância durante a pandemia, sabem que esse esquema funcionou e precisa continuar. O retorno puro e simples às atividades presenciais, além de contraproducente, é burra. Não leva em conta as inumeráveis vantagens de manter um cenário híbrido.

Em todos os aspectos o trabalho híbrido é mais vantajoso. A pessoa pode morar em Portugal e trabalhar no Brasil. Os trabalhadores preferem trabalhar em casa. O serviço rende mais. Também há economia para o trânsito, o uso dos combustíveis poluentes, tudo aquilo que a natureza exige, para poder continuar a nos oferecer gratuitamente os seus serviços.

Os desafios e oportunidades postos pelas novas tendências estão no modelo híbrido do trabalho, no redesenho do local de trabalho, que deve ser ambiente de integração, cooperação e inovação. Os idosos constituem fator natural de integração. Temos de nos reavaliar como profissionais e como seres humanos. Somos insubstituíveis ou não? Tudo o que é velho tem de ser descartado?

A força de trabalho repetitiva e previsível será substituída pela automação e isso intensifica a guerra por talentos. Algo que seria missão da escola, mas que ela não conseguiu responder a contento. Repensar essa questão da idade é uma questão de sobrevivência do mercado. E de sobrevivência de um convívio saudável entre humanos, algo que a humanidade está a exigir com urgência e crescente angústia.

José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL); foi presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

 

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