“Ressurreição à Vida”

Giuliano Pereira D’Abronzo

 

Passada a Páscoa, cabe-nos fazer uma pequena reflexão do que ela realmente representa. Mais do que chocolate, a Páscoa significa uma passagem. Ou a Passagem.
O cristianismo herdou esse ritual da Páscoa do judaísmo, a Peassach, que é a passagem da escravidão no Egito para a terra prometida por Deus. Lembrando que Jesus era judeu e viveu todas as tradições judaicas, ele aproveitou esse simbolismo de libertação para instituir a Páscoa cristã, a passagem de uma vida terrena, presa à matéria, para uma vida voltada ao espírito, onde a matéria é apenas uma parte de tudo o que existe.
Pois bem, na sexta-feira da paixão a ausência de luz tentou apagar a chama que serve de norte para toda criatura. A matéria estava inerte, sem vida, sem ânimo, sem luz. Como se aquele ato de desespero, de não reconhecimento pudesse apagar a chama guia. Puro desespero das trevas.
Mas as trevas não resistem à chama. E no domingo, três dias após, a Vida ressurge.
A física explica as interações das forças, a química explica a natureza da matéria, os átomos, as moléculas, os cristais, e a biologia a união das moléculas que se transformam em compostos orgânicos que culminam com o surgimento da Vida.
Mas nenhuma delas, nada explica a junção de tudo isso e que, após receber a alma, gera Vida. Ainda permanece um mistério que a ciência não explica. Só a fé sente a Grandiosidade do ato criador.
Alma, que dá vida, alma que anima a matéria e que torna a matéria inerte em espírito criativo. Aliás, não seriam as palavras animar e alma originárias da mesma raiz? Só para lembrar, o significa de Alma é sopro, ar, e vem da palavra latina anima, que igualmente dá origem ao verbo animar. Não seria isso o sopro divino, que deu Vida à matéria inerte terra? Do pó vieste ao pó voltarás (Gênesis, 3, 19). E o pó só adquire vida com o sopro divino, a alma.
Pois bem, esse segredo bíblico mostra um detalhe, pequeno detalhe, que se reconhece sanctum et frater est; o espírito santo, conforme se observa na vida de Jesus. O espírito santo está presente em todos, mesmo aqueles que não são capazes ainda de reconhecer a luz. O espírito santo está lá, em todos. Basta abrir-se à possibilidade de reconhecer (e não apenas conhecer) a luz. Reconhecer, conhecer novamente. E é essa alma que torna todo ser humano irmão um do outro, o sopro divino, vindo do mesmo ser criador. E que também torna todos santos, por terem a essência divina dentro. Uma vez mais, ainda que não reconheça a luz, ela está lá, animando a matéria.
Aliás, é possível começar a entender um dos maiores mistérios, a Trindade, o Um que é Um e Três, Três em Um; Um em tudo; sanctum et frater est.
Concluindo, na Páscoa, o simbolismo é de que a luz ressurge, brilha e serve de guia, de norte. É o caminho, é a verdade, é a Vida. Talvez seja possível, em meio a tantas interpretações, encontrar um significado para o que Jesus disse, quem crê em mim faz as obras que faço. Assim é e assim será sempre; através do exemplo de Jesus, ele se torna o caminho, a verdade e a vida.
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GiulianoPereiraD’Abronzo, servidor público federal

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