Desejo (II) Constituinte do Ser

Nós nos apaixonamos por alguém, mas não sabemos dizer por quê. Sabemos que estamos apaixonados, mas não sabemos depreender como isso se deu. Assim é com o amor.
Mas o desejo é outro assunto. Surge sempre da falta constituinte em todos nós, e isso facilmente se comprova. Quem nunca desejou muito alguma coisa e assim que obteve passou a desejar outra logo a seguir? Isso é mais evidenciado na histeria que na obsessão, quando o sujeito escamoteia ou sintomatiza de forma aguda.
Não haveria desejo sem a falta, o vazio, o buraco no ser. Somos todos incompletos, por isso desejantes. É o que nos impulsiona a viver.
É sob essas bases que se sustenta o dito ‘o homem é um eterno insatisfeito’. Sim, porque só o morto não deseja. Onde a palavra se cola ao corpo, eliminando a defasagem entre um e outro.
Importante salientar que não sabemos ‘a priori’ o que desejamos. Há uma distância entre o que se quer e o que se deseja. Por seu aspecto inconsciente só podemos ver o que desejamos ao olharmos nosso percurso de vida como quem olha a linha do horizonte em retrospectiva na vida. Os momentos que tivemos de decidir por alguma coisa e abandonar outra até chegarmos onde estamos. Mas não há como saber o que desejamos antes.
Talvez o leitor estranhe, pois na linguagem o desejo é conceituado a partir do que temos acesso consciente. Mas em Psicanálise falamos de forças desconhecidas.
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“O homem enérgico e bem sucedido é aquele que consegue transmutar as fantasias do desejo em realidades”. (Sigmund Freud)

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Estou sozinha há bastante tempo (precisamente três anos) e já me relacionei com dois homens de um site de relacionamentos. Tenho muita vontade de me apaixonar, recebo muitas mensagens, mas não me sinto segura em marcar algo, pois percebo que os homens enrolam, enganam ou estão querendo uma aventura (geralmente eles não confessam essa parte). Estou sendo crítica demais? Ou inconscientemente ‘joguei a toalha’ com relação a namoros “sólidos”?
Edna, 34.

Ao partir do pressuposto que os homens estão sempre trapaceando não sentirá qualquer base de segurança mesmo. Sim, concordo muitos homens não são transparentes, mas esses não têm o perfil que procura em um homem, certo? Se você, como diz, percebe isso neles a priori seria uma peneirada, mas há mais que isso em jogo.
Essa percepção pode estar sendo guiada por experiências pessoais, e não refletirem a realidade. Quero dizer que em certos casos isso talvez aconteça, mas em outros, que também julga acontecer, é por conta dessa insegurança sua, e isso é responsabilidade de quem?
Outro detalhe é que se defende do encontro como se já tivesse que assumir um compromisso. Todo relacionamento para ganhar consistência passa por um tempo conhecendo mútuo. Iniciar algo sem o peso da responsabilidade séria pode favorecer – mais do que prejudicar – algo sólido e verdadeiro. Mas é preciso que tenha ousadia e coragem de apostar. A bola é sua.

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