Um lugar de fala

Márcia Scarpari De Giacomo

 

Muito se tem falado ultimamente por con- ta da greve dos servidores públicos de Piracicaba. Vemos as mídias se dividirem entre os que se opõem veementemente às manifestações grevistas e outras que abrem seus espaços às palavras das categorias reivindicantes, em balanças desiguais. Os ambientes virtuais também se conectam e desconectam dos demais, formando polos divergentes. Todos têm opiniões a partilhar ou a refutar, nunca em uníssono, pois também aqueles que concordam, entram em conflito de ideias por vezes. Há urgências a se discutir, a se debater, a se decidir – é a sociedade de novo se movendo e se recuperando do torpor em que esteve mergulhada.
Procuro aqui situar e apresentar o lugar em que estou assentada, o chão da escola da rede pública, para pensar uma conexão: neste universo tão relevante da escola, todos os dias é possível também vivenciar conflitos, ansiedades, inseguranças, intolerâncias e desajustes de comunicação entre as crianças. Afinal, reproduzem aquilo que observam todos os dias, seja em seus lares, através de mídias jornalísticas ou por redes sociais de acesso. Além disso, bem previsível que as crianças e adolescentes, diante da exposição irremediável ao panorama da pandemia, afetadas por perdas irreparáveis de familiares e por prejuízos emocionais decorrentes de um isolamento social prolongado, ao retornarem ao convívio nas escolas se sentissem deslocadas, ansiosas ou desmotivadas.
Neste grande caldeirão de questões prementes para seu futuro ao invés de encontrar um lugar de segurança, de apoio e ludicidade, se depararam com situações poucos resolvidas, titubeantes, desestruturadas e há muito tempo ainda em “manutenção”, parecendo ainda depender somente dos esforços das “formiguinhas” (equipe escolar) para sua sustentação. Seria de se esperar apoios vindos de profissionais especializados em psicologia e psicopedagogia para compor o quadro escolar, com intuito de dar suporte com dinâmicas específicas e atendimentos individualizados às crianças traumatizadas, pelo menos nos primeiros meses letivos.
Entretanto, para “as formiguinhas” que se comprometeram a encaminhar os dois anos letivos precedentes com seus próprios recursos e estruturas, sobrou apenas o discurso em Rádio de nosso gestor municipal – de que pouco trabalharam. E, em meio ao embate de palavras que tais acontecimentos suscitam e as poucas ações de nossos administradores públicos a fim de solucionar problemas de reajuste da inflação nos salários de seus funcionários (apesar do superávit de impostos arrecadados), ficamos ainda a espera de um planejamento e incremento efetivo para apoio às comunidades escolares, às famílias cidadãs e aos servidores públicos.
Queira que o bom senso, ou melhor – a iluminação divina – possa tocar nas mentes e nos corações desses governantes para que juntos enquanto sociedade unida possamos promover a confiabilidade e o desenvolvimento pleno de nossas crianças! Por enquanto, ainda só nos resta lamentar o tempo perdido e o tanto do capital humano desperdiçado por mesquinharias.
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Márcia Scarpari De Giacomo, professora do Ensino Fundamental 1, Mestre em Educação (Unesp de Rio Claro)

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