Mudanças?

Paulo Nunes

 

O cidadão se elege com mais de 85.000 votos e se torna o queridinho de uma cidade ávida por mudanças. Derrota o candidato, até então, o atual prefeito que tinha a máquina pública na mão.
O discurso de mudança era a tônica da sua campanha. Saldo de pouco mais de um ano como prefeito:
– Conseguiu unir um sindicato, que antes era (erroneamente) tachado de conivente com a máquina pública, aos seus filiados e aos demais funcionários públicos;
– Fez com que parte da Câmara Municipal ficasse contra a sua administração;
– Deixou a Secretaria de Edducação com tanta raiva que é a mais expressiva categoria numa greve;
– Fez com que a Guarda Civil Municipal ficasse ao lado dos grevistas, mesmo tendo impedimentos constitucionais, ao propor mudar sem sentido algum, seus turnos de trabalho já consolidados por lei;
– Deixa a cidade cheia de buracos e matos por cortar, talvez capitalizando o valor para no final do mandato, tentar fazer a máquina pública funcionar a seu favor e no próximo ano eleitoral (seja ele ou seu indicado como candidato) sair com vantagens na briga pela sucessão;
– Conseguiu atrasar o recebimento do IPTU, uma das maiores fontes de renda do município, por inépcia ou descuido;
– Deixou parte da população com revolta pois numa tentativa de descontrair, ironizar ou mesmo querendo com boa vontade, ajudar a situação de calamidade vivida por todos em função da pandemia de Covid, pedir que tomassem um placebo (nessas circunstâncias) chamado chá com limão e não se dirigissem aos prontos-socorros;
– Isso sem falar na Secretaria de Saúde, que tem o descontentamento tão grande em função de ter atuado na linha de frente numa das maiores pandemias da humanidade e não terem atestados por Covid abonados para efeitos de gratificação (aliás, em toda a administração pública municipal e suas autarquias), além da falta de insumos e equipamentos para lidar com a situação em muitas das vezes;
– Secretarias como a Guarda Civil, Educação, Saúde e todos os outros funcionários que não pararam em todos esses anos de pandemia, tendo trabalhado presencialmente ou remotamente, muitas vezes usando seus pertences pessoais como celulares, telefones fixos e computadores deram a população o respaldo para que tudo voltasse a normalidade depois de amainado a procura por leitos de UTI. A esses, não foram reconhecidos seus esforços.
Gandhi disse uma vez para sermos a mudança que queremos ver no mundo. Essa administração parece que esqueceu desse tão importante preceito ao dar de ombros para os anseios dessa classe que já sofre com a desvalorização e a falta de reconhecimento por grande parte dos administradores públicos. Não se espera nada além do que é devido. Não se pede aumento, não se pede mais benefícios nem aquiescência. Pede-se apenas o que é devido ao longo de três anos de trabalho e perdas do poder de compra corroído pelas inflações ao longo desse período.
Só para ter uma ideia, desde 2019 o IPTU no município aumentou 33,09% e a água, 22,68%. Fora outras taxas que foram cobradas sem mesmo pensar que alguém poderia ter ou não, o dinheiro para pagar. Entre elas IPVA, multas, taxa de poder de polícia, ISS e por aí vai.
Em sua corrida para a cadeira de prefeito ao defender a classe de servidores públicos que o apoiou em peso, dizendo que os trataria não na “chibata” igual ao anterior, parece que foram apenas promessas de campanha ou o engodo já conhecido por todos.
Repor a inflação do período de três anos de forma única não é benesse, ajuda ou favor. É simplesmente dar reconhecimento a quem tanto trabalhou e merece ser recompensado financeiramente nas suas perdas salariais. Alguns podem perguntar depois de toda essa explanação: e quem é esse prefeito? Deixo a resposta com vocês.
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Paulo Nunes é servidor do Semae (Serviço Municipal de Água e Esgoto).

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