A liminar na greve

Walter L. Guarda

 

Na pacata Vila da Constituição, hoje Piracicaba, surge um “coronel”. Os capítulos desse enredo se estendem há cerca de quatro semanas, desde o início das tentativas para acordo de dissídio coletivo do funcionalismo público de Piracicaba, realizados por mediação do sindicato. Tentativas frustradas, por parte da administração pública, ao negociar a reposição inflacionária a “la carnê” crediário, em suaves prestações. No dia 8/4/2022, numa audiência de conciliação designada pelo Tribunal de Justiça, mais uma vez, percebemos a falta de diálogo e respeito para com o funcionário público, onde este presta atendimento à população de Piracicaba.
O açoite e os grilhões foram novamente apertados e intensificados à classe dos servidores públicos, pois desde 07/04/2022 houve o cumprimento obrigatório da liminar do retorno ao trabalho aos grevistas. Neste juízo, a greve é interpretada como abusiva e fora determinado a integralidade dos serviços. Interessante, tanto na mitologia grega como romana, a representação da justiça traz uma espada (força) a mão esquerda e a balança (equilíbrio das decisões) a mão direita. A faixa (imparcialidade) veio posteriormente, somente no século XVI por artistas alemães.
Pode-se perceber duas derrotas nesse embate, mas a guerra ainda continua a se estender, porque, de acordo com Maria da Glória Gohn, em seu artigo Movimentos sociais na contemporaneidade, publicado na Revista Brasileira de Educação: “O movimento torna-se dependente da opinião pública, pois é preciso que a sociedade manifeste o conhecimento da ação, precisa que se discuta e debata o que se está demandando, reclamando ou denunciando, para que a ação coletiva venha a atingir reconhecimento e legitimidade social. A mídia e sua cobertura tornam-se elementos estratégicos nessa configuração; ela contribui para a direção do movimento, pois o movimento social precisa de visibilidade”.
As ações e a paralisação das atividades no município, através da greve, ganharam visibilidade, haja vista o apoio de membros dos outros poderes, deputados e vereadores, além de outras forças sindicais e comunidades. Novos confrontos a frente, pois o gestor público ainda está a sombra do judiciário, em contrapartida há disparidades desse governo, no curto período de mandato, desde rodízio de secretários, contratos investigados (Cegecon, Merenda, Ilumina), além da precária manutenção dos serviços do município.
Como relata o documento apreciando o repasse de emenda ao Ilumina, publicado em reportagem do site G1: “A replicação dos mesmos entraves, além de inexplicável, traz indícios sérios de possível ato de improbidade administrativa que exigirá providências por parte deste Juízo ainda nesta sentença”. Logo, a resistência e a luta por direitos dos servidores públicos não deve se abater pelo desânimo, o caminho deve ser trilhado continuamente, mesmo que haja os “pamonhas de Piracicaba”, os quais se beneficiarão dos resultados.
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Walter Leandro Guarda, servidor público, estudante de História da Unisa

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