Mulheres no jornalismo: por representatividade e respeito

Júlia Heloisa Silva

 

Reitor Ismael Valentin, professor e nosso Paraninfo João Turquiai, professor e nosso Patrono Paulo Roberto Botão, aos nossos professores homenageados Ivonésio de Souza e Wanderley Garcia, ao pastor Cristiano Pedroni, às minhas colegas jornalistas e aos meus colegas e professores do curso de cinema, aos pais, familiares e amigos aqui presentes, boa noite.
Gostaria de começar agradecendo minhas amigas, agora bacharéis em jornalismo, por confiarem a mim a missão de ser a oradora da última turma do Curso de Jornalismo desta Universidade que tanto fez pela cidade de Piracicaba e região. Agradeço também aos professores que nos ensinaram a arte de informar e se desdobraram durante a pandemia para que não perdêssemos nenhum conteúdo em aulas online e aos nossos familiares e amigos, pois sem vocês não teríamos conseguido.
Agora vamos às principais manchetes ao longo destes quatro últimos anos:
– Unimep abre turma de jornalismo com 15 alunos em 2018, apenas sete se formam em 2021, mas só cinco mulheres chegam à sessão solene em 2022;
– Pesquisa aponta que gastos em xerox, pão de batata na galeria da universidade e em ‘litrão’ no DP bar é mais alto do que o piso salarial de jornalismo no Estado;
– Alunos e professores improvisam produção de bancada de jornal e documentários durante a pandemia da Covid-19 em meio ao isolamento social.
– Depois de assembleias, greves e filas quilométricas na secretaria, alunos chegam ao último ano de jornalismo.
– Uma semana antes do início das aulas do último ano de graduação, faculdade informa por e-mail suspenção do curso de jornalismo.
– Alunos passam a ter aulas e orientações de TCC com professores de outra universidade metodista e, no último semestre, aulas retornam com docentes de Piracicaba.
Tudo isso e muito mais a gente viveu nesses quatro anos e, já durante o curso, percebemos o quanto a nossa profissão não seria fácil. Agora formadas, muitas questões passam pela nossa cabeça, como: “O que fazem os jornalistas com diploma? O que comem? Onde vivem? Como faço para ter um guarda roupas cheio de looks iguais ao da Maju Coutinho?”.
Também já até nos acostumamos com as frases “Quando vou te ver na Globo? Quando ficar famosa, não esquece de mim!”, mas o que muitas pessoas não sabem é que o glamour romantizado em cima da nossa profissão não passa de uma fake news.
Hoje é difícil ser um jornalista no Brasil. E não afirmo isso da boca para fora. Este dado está no relatório anual “Violações à liberdade de expressão”, feito pela Abert, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, que diz que pelo menos três ataques a jornalistas por semana foram registrados no país em 2021 e houve um aumento de 21% de vítimas em relação a 2020.
Este dado está, também, no levantamento feito em 180 países pela organização “Repórteres Sem Fronteiras” sobre o nível de liberdade de expressão, que mostra que o Brasil caiu no ranking nos últimos quatro anos e se encontra pela primeira vez na zona vermelha, zona esta que indica que é difícil e perigoso ser um jornalista no Brasil.
E mesmo assim, aqui estão cinco mulheres jornalistas. A maioria da sala durante todo o curso e também a maioria hoje na profissão. Mas, infelizmente, isso não diz muita coisa. Ainda somos subjugadas, assediadas, sexualizadas e fragilizadas na profissão. Quando vemos uma repórter na TV, por exemplo, prestamos atenção primeiro na roupa que ela veste antes de escutar a notícia e o que ela tem a dizer.
Hoje, infelizmente, nós jornalistas estamos sem ter a quem recorrer, pois a própria gestão atual do Brasil incentiva esse tipo de comportamento contra nossa profissão e quase todos os dias dispara palavras de ódio contra os nossos colegas, principalmente às mulheres. Sabemos que nem todos estes nossos colegas de profissão aprenderam a ética jornalista, mas a maioria apenas realiza o trabalho de levar a verdade e exercer a democracia que nos é garantida pela Constituição Federal de 1988.
Afirmo que o jornalismo é essencial para a promoção da equidade, diversidade e ao direito à democracia. Foi durante este curso que me entendi como mulher negra e entendi a minha importância na sociedade. Me apaixonei por esta profissão que me abre portas para escutar, ser escutada, contar histórias incríveis e pegar pautas sobre assuntos que não domino e acabar aprendendo um pouco de tudo.
Somos cinco e a maioria de nós só conseguiu chegar a este diploma graças as ações afirmativas ainda oferecidas. E é com muito orgulho que digo que sou a segunda filha que meu pai caldeireiro e minha mãe do lar conseguem formar.
Termino este discurso com uma reflexão: se a imprensa é vista como a inimiga de pelo menos um dos três poderes, é porque este tem algo a esconder do povo.
Este ano é ano de eleição, então votem com consciência! Boa noite e fora genocida!
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Júlia Heloisa Silva é bacharel em Jornalismo e foi oradora da 38ª Turma de Formandas em Jornalismo da Universidade. Esse discurso foi proferido durante a solenidade de formatura da turma, no Teatro Unimep, no dia 02 de abril.

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