Sem negociação, os servidores entram em greve

Lilian Lacerda

 

Servidores municipais entraram em greve no dia 1 de abril. A paralisação ocorreu após várias tentativas de negociação do reajuste com o executivo. Sem acordo quanto ao parcelamento do reajuste, a categoria rejeitou a proposta de 10,56% em março e 3,17% em julho, o restante a ser parcelado em 2023: reposição inflacionária e mais 3,17% e 2024: reposição inflacionária e mais 3,16%.
O primeiro dia de paralisação foi marcado pela intransigência do executivo a ver pela liminar que concede o Interdito Proibitório invocado sob a alegação de garantir os direitos aos não grevistas e salvaguardar a integridade dos prédios públicos – sob pena de multa de R$ 50 mil por dia em caso de descumprimento. O primeiro argumento se apresenta como uma tentativa de apoio aos servidores que não aderiram à greve. Já o segundo, é perverso. Coloca os servidores como arruaceiros, baderneiros, desordeiros quando, na verdade são trabalhadores que labutam arduamente e estão a reivindicar seus direitos.
O ato ocorreu nas mediações da prefeitura e contou com a cobertura de vários veículos de comunicação que deram visibilidade a greve, além do apoio recebido de entidades, outros sindicatos e vereadores.
Foi um dia com bastante movimentação, principalmente na parte da manhã: cartazes, panelas, crianças e até quem trouxe consigo cadeira para passar o dia.
Ainda pela manhã, a comissão de negociação realizou uma nova tentativa de negociação, mas não foi atendida.
Alguns pontos importantes se destacaram durante a manifestação, como o número de denúncias de servidores com ameaças, intimidação e irregularidades nas unidades de trabalho. Na educação, a ausência de servidores gratificados e comissionados foi evidente; a falta de comunicação com as famílias é outro ponto que merece destaque: as escolas não divulgaram a eminencia da greve para os pais se organizarem; houve greve branca em muitas unidades e até crianças sendo dispensadas; houve atraso e falha no fornecimento de merenda.
É preciso destacar a adesão dos servidores. Segundo o jornal Gazeta de Piracicaba, a adesão foi de mais de 70% dos servidores e classificou a paralisação como “robusta”.
Os cartazes portavam as reivindicações salariais, a falta de estrutura nas unidades de trabalho, a falta de insumos e materiais e, principalmente, a valorização da categoria.
Após as 13 horas, o atendimento na prefeitura foi interrompido e justificado pela falta de funcionários que aderiram a greve.
A Câmara considera legítima a greve e apoia as reivindicações dos servidores. O sindicato tem procurado garantir que tudo ocorra dentro da legalidade. Foram inúmeras as denúncias relatadas ao sindicato, já no primeiro dia de paralisação, desde abusos, assédios até escolas dispensando crianças e falta de merenda dentre outras práticas antissindicalistas.
O Executivo não tem demonstrado flexibilidade nem sensibilidade às demandas apresentadas pelos servidores. Não faz sentido manter esse tom tendo em vista a defasagem de profissionais atuando no município.
É preciso que haja bom senso e disposição para resolver o mais breve possível a situação para que os servidores retomem suas atividades. Todavia, as declarações do executivo demonstram o despreparo e a falta de bom senso ao atacar o sindicato e ironizar os servidores. É inconcebível e infeliz as declarações que expõe e ofendem os servidores com uso de adjetivos e termos pejorativos, além das críticas e acusações direcionadas à atuação do sindicato.
Tom de ameaça, tentativas de colocar o servidor contra a população fazem parte das medidas impopulares que marcam este governo. Ademais, o posicionamento fechado ao diálogo, a ausência e as declarações arcaicas só aumenta a insatisfação e o desgosto popular. Isso engrossa o caldo da mobilização que culmina num evento histórico para a luta por valorização, respeito e dignidade ao servidor público.
Para finalizar, essa é a maior greve das últimas décadas no município. Nem aos munícipes, nem aos servidores interessam que a greve se estenda e tudo pode ser resolvido desde que o executivo atenda a demanda da categoria e pare de tratar os servidores como inimigos.
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Lilian Lacerda, Doutora pela PUC-SP, psicanalista e pesquisadora.

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