Os núcleos de favelas são bastante antigos

Barjas Negri

 

Os núcleos de favelas em Piracicaba são bastante antigos, característica de sua economia que assistiu expressiva expansão da lavoura canavieira, que demandava muita mão de obra no corte da cana durante as safras anuais. Esse processo sempre atraiu trabalhadores de vários estados brasileiros, como de Minas Gerais e da região Nordeste.
Esses trabalhadores vinham para Piracicaba e se alojavam em condições inadequadas. Com o final da safra, eles podiam voltar para suas cidades de origem. Mas muito preferiam ficar aqui e participavam dos movimentos de ocupação de terras públicas e privadas, onde instalavam seus barracos de madeira. Ficavam nessas situações até terem condições de construir suas casas em alvenaria. A mecanização do corte da cana reduziu esse fluxo migratório.
Acompanhei de perto os trabalhos dos prefeitos municipais que, com sensibilidade social, realizavam investimentos em infraestrutura urbana nessas áreas com a instalação de redes de água e esgoto, energia elétrica, iluminação pública nas ruas e pavimento asfáltico, transformando essas áreas em bairros com melhores condições de vida para essa população. Numa próxima etapa deste processo, eles articulavam a regularização fundiária. Tudo isso ajudou e melhorou muito a qualidade de vida de milhares de famílias.
Ocorre que a economia capitalista é cíclica e sempre há recessões, que fazem o PIB (Produto Interno Bruto) recuar e gerar milhões de desempregados na sociedade. Foi assim em todas as décadas desde 1980 e a última ocorreu em 2015-2016, com a destruição de milhões de empregos, o que foi agravado pela pandemia de 2020.
Em Piracicaba, essas crises recentes provocaram o acentuado processo de favelização, onde milhares de famílias foram obrigadas a morar em áreas ocupadas por favelas ou a criar novas favelas. Alguns exemplos: Portelinha, Pantanal, Frederico, Esperança, Vitória Conquista e Renascer para citar as maiores.
No período de 2017 a 2020, pelo menos 10 comunidades de favelas receberam expressivos investimentos em saneamento básico, instalação de energia elétrica e iluminação pública nas ruas/avenidas, além do cascalhamento de vias públicas. Em 2020, durante a pandemia do coronavírus, o trabalho foi mais intenso. Cerca de 2 mil famílias receberam algum benefício, trabalho que não se completou e que lamentavelmente foi interrompido em 2021, segundo ano da pandemia. Por outro lado, as favelas mais antigas receberam atenção para sua regularização, como foram os casos recentes do Jardim Glória, IAA-Silveiras, rua São Dimas, Tatuap&eacut e;, Esplanada-MAF, Guamium, Algodoal (parte) e Marques Cantinho.
A pandemia não acabou, apenas ficou menos intensa. Mas isso não era motivo para ignorá-las, pois encerrado 2021, primeiro ano da atual administração, as favelas parecem esquecidas e abandonadas. Elas não receberam qualquer investimento público nesse ano, sem a ligação de uma torneira d´água ou uma ligação de energia. Até o diálogo foi interrompido.
E vejam que não é por falta de cobranças. A União das Comunidades de Piracicaba (UCP) tem trabalhado e reivindicado ações das autoridades. Em alguns casos com o apoio de alguns vereadores. Por último, não é demais lembrar que, quando a classe média vai ao supermercado, ao restaurante, a uma loja, a uma lanchonete, a uma sorveteria, a uma pizzaria, muitos trabalhadores que prestam serviços nesses locais, moram nessas favelas que precisam de maior atenção da Prefeitura.
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Barjas Negri, ex-prefeito de Piracicaba

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