A Umbanda e seus mitos

André Toledo

 

Dentro de toda a história brasileira que envolve a manifestação mediúnica de arquétipos que hoje são conhecidos dentro dos terreiros de umbanda, persiste ainda nas mesas de debate a real origem da Religião de Umbanda. Neste contexto de amor e ódio pela religião, das defesas de teses herdadas e conhecidas, temos que assumir que existem personagens históricos, ao longo destes 522 de Brasil, que realmente fizeram a diferença na propagação dos ritos religiosos de terreiro.
Não podemos, porém, nos apegarmos a tão somente as manifestações mediúnicas de arquétipos conhecidos para podermos outorgar a “autoria” da fundação da religião de Umbanda. Pois se assim fosse, teríamos que fazê-la ao saudoso Allan Kardec. Afinal, foi através dele que temos documentado uma conversa simples, e repleta de ensinamentos, com uma entidade que se apresentou como Pai Cesar. E não muito longe de nós, ou como diria o mineiro, logo ali, em Itu, também se manifestava uma entidade chamada Pai Gavião, o qual manifestado em seu médium, planejava uma revolução escravagista.
Da mesma corrente de ensinamento, não podemos nos apegar às curas milagrosas que ocorrem dentro de um terreiro de umbanda para poder prestigiar com o título de fundador da Umbanda, pois se assim fosse, teríamos nosso amado Nhõ João, ou mais conhecido como João de Camargo, com a altiva Igreja das Águas Vermelhas de Sorocaba/SP. Em suma, a religião de Umbanda não é e nunca foi detentora dos arquétipos ou manifestações mediúnicas ao longo de todas as datas e por todo o território de nosso Pai Maior. Pensando nisso, ainda continuamos com o mesmo questionamento: o que é a Umbanda?
Não muito longe, até mesmo Zélio Fernandino de Moraes foi questionado a respeito da Umbanda. Em Resposta a esse questionamento, ele sempre disse: “a Umbanda é a manifestação mediúnica para a prática da caridade”.
Temos que entender o que realmente aconteceu na conhecida data de 15 de novembro de 1908, quando um jovem, de 16 anos de idade, o qual estava passando por problemas na época conhecido como loucura, procurou ajuda em todos os lugares convencionais da época e não obteve êxito. Porém, após ser orientado por uma parente, buscou ajuda na Federação Espírita do Rio de Janeiro, em Niterói/RJ. Nessa data nada convencional, um espirito, cuja luz ainda hoje é sentida e percebida pelos mais atentos, que se identificou como Caboclo das Sete Encruzilhadas, manifestado em seu médium, um garoto de 16 anos de idade, pronunciava-se como detentor e “defensor” de entidades as quais não poderiam se pronunciar nas mesas das casas espiritas da época.
Com uma verdadeira lição para todos nós, e aos senhores do conhecimento sintético a respeito da espiritualidade da época, e atual, questionou: “ por que repelem a presença desses espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens? Será por causa de suas origens sociais e da cor? ” E, continuando a disciplinar os doutores do conhecimento da época, persistiu: “se julgam atrasados esses espíritos dos negros e dos índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho para dar início a um culto em que esses negros e esses índios poderão dar a sua mensagem e assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem o meu nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminho fechado para mim.”
Para finalizar com a clássica chave de ouro, ainda determinou que a Umbanda seria uma religião na qual “aprenderemos com os que sabem mais e ensinaremos os que sabem menos, mas a nenhum renegaremos amor, pois esta é a vontade do Pai! ” Por fim, cabe reafirmar que a Umbanda é uma religião que prega o amor, o respeito e a união de todos os irmãos. Afinal, já ensinou o grande Profeta, “onde estiver dois ou mais reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles.”
Por este motivo, tenho uma enorme honra em fazer parte desta religião e, em especial, por fazer parte de uma Raiz de Umbanda, que preserva todos os nossos fundamentos passados de geração em geração.
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André Toledo, do Templo de Umbanda União dos Orixás

1 comentário em “A Umbanda e seus mitos”

  1. Gostei muito, muito bem explicado e comentado, sou um leitor e estudante de religiões de matrizes africanas e espirituais, gostaria de saber mais e indicações de bons livros e sites..

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