Atores da guerra

Camilo Irineu Quartarollo

 

Os jardins famosos florescem. O do Vaticano, com rosas sanguíneas, os da Casa Branca com as rosas de Hiroschima e Saigon e, o do Kremlin, com rosas Chechenas.
Nos anos setenta do século passado orquestrou-se a eleição de um papa da “Cortina de ferro”, de um país satélite da URSS, a Polônia, elegeram o cardeal Wojtyla, que fora ator, cenógrafo e diretor de teatro. O papa visitou a Polônia nove vezes em seu pontificado, mantinha-se informado de tudo e recebeu o candidato e futuro presidente Lech Valessa. Karol quase sucumbiu num atentado, e não foi por questões de fé. Assim como Karol em 1980, Reagan sofreu um atentado um ano depois. Ambos se tornam amigos. O presidente americano Ronald, também ator, notabilizou-se pelos filmes hollywoodianos e apoio aos ditadores das Américas central e do sul, como ao sanguinário Saddam Hussein do Iraque e, a sua maior façanha, diagnosticou, arquitetou e implementou a queda da URSS.
Na ocupação do Vietnam, país comunista, nem o público americano acreditava que os EUA estavam defendendo a democracia ou coisa do gênero. Há vinte anos, os EUA proclamaram a luta “contra o terror” ou “guerra preventiva” e elegeram as nações que estavam no “eixo do mal” para serem invadidas e atacadas.
Nos seriados americanos, que replicam as versões patrióticas, os heróis perseguem homens maus, que são os outros, claro: árabes, russos, chineses, alienígenas e até algum brasileiro desavisado.
Gorbatchov, o líder russo que fez a “abertura”, virou um pop star. Em 1997, fez uma propaganda da Pizza Hut na TV americana. Este político tinha uma marca de nascença na careca, de um derrame cutâneo que mais parecia o esfacelamento do seu país. É comum seios, bumbuns, pernas, registrados como marcas e direito de uso. Uma empresa de vodka quis usar a marca da testa do líder russo como propaganda e Gorbatchov decidiu registrá-la. Se quiserem que paguem! O capitalismo enfim – o valor de mercado. Gorbatchov, entretanto, implementara leis de combate ao alcoolismo. Seu sucessor Yeltsin fez algumas estrepolias por conta do álcool e medicamentos que tomava por problemas cardíacos, mas defendeu sua pátria.
Por vezes, Yelstin saía à rua bêbado e de cuecas para encomendar pizzas ou por ter perdido as calças mesmo. Numa reunião com jornalistas foi flagrado beliscando a bunda da secretária. Clinton, presidente dos EUA e saxofonista, apontou o dedo em riste para Yesltin devido à guerra na Chechênia, mas o presidente russo lhe devolveu a ofensa exigindo que os EUA também parassem de bombardear a Iugoslávia. O russo tinha um lado pândego, mas adoece e passa o bastão ao sucessor Putin, disciplinado, que se opõe ferozmente contra a ingerência americana, que belisca territórios estratégicos a leste.
A Ucrânia elegeu presidente um comediante versátil, amigo dos EUA e pró OTAN. Seria o efeito Wojtyla? Anote-se, wojtyla não é marca de vodka, ainda não…

___

Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, autor de crônicas, historietas, artigos e livros

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima