Nem tudo que reluz é ouro

José Osmir Bertazzoni

 

Nem tudo que reluz é ouro. Muitas vezes, consumimos um almoço ou jantar sem pensar nos bastidores, no trabalho por trás dele, não imaginamos sua complexidade. E não apenas isso, os profissionais que atuam em bares especializados e restaurantes também fadigam, em vários níveis, resultando em uma única palavra: estresse. Os principais sintomas são: insônia, ansiedade, tristeza, irritabilidade e isolamento social, conforme emergiu do estudo “Psicológico dos serviços de restaurantes, bares, hotéis e hospitalidades”, promovido pelo “Confederación Latinoamerica de Trabajadores”, fundando-se em informações dos Sindicatos em Hotéis e Restaurantes e Hospitalidades das principais capitais latino-americanas e centros turísticos gastronômicos, como São Paulo (BR), as pesquisas englobam os maiores sindicatos da américa latina. Objetivo: explorar os desconfortos vividos por aqueles que optaram por se envolver na cozinha como profissão e que foram ampliados com a pandemia, em meio à confusão e incerteza.

Basta pensar em um dos sintomas mais relatados, a saber a “criticidade do sono”, em 54,45% dos casos, aumentando no último ano. No campo psíquico, os estados ansiosos também se agravaram entre os cozinheiros (40,54% contra 32,43% antes da chegada do coronavírus), tristeza (38,73%, antes era 35,13%) e tendência a se isolar (34,90%, antes 32,20%). A percepção generalizada de quão agitado, intenso e exigente era o trabalho e, no caso dos donos de restaurantes, também a preocupação com o sustento, acentuaram-se no momento da emergência sanitária, trazendo para o colapso os problemas existentes mesmo no pré-Covid. Nomeadamente as relacionadas com a rotatividade de pessoal, a procura de equilíbrio entre trabalho e vida privada, horas e cargas de trabalho. Somando-se a isso a dificuldade para encontrar colaboradores “competentes ou já treinados” e os problemas relacionados à situação atual. Como a dificuldade de fazer cumprir as regras, por exemplo, por meio do controle sanitário: obrigação vivenciada como causa de desentendimentos e atritos com os clientes, percebida como muito mais exigente e agressiva no pós-pandemia do que antes.

Objetivando reagir e bem responder ao momento extremo, os representantes da análise examinada (cozinheiros e donos de restaurante de toda a américa-latina, 78% representados por homens, principalmente entre 30 e 67 anos) não recorreram à ajuda de profissionais de saúde (psicólogos e psiquiatras) ou fizeram uso de psicotrópicos. Durante os fechamentos, a maioria, 78%, discutiu com seus colegas e 80% tiveram tempo para pensar em todas as alternativas possíveis para conseguir manter o negócio. E, ainda que muitos tenham sido obrigados a encerrar definitivamente, no que diz respeito às escolhas futuras, mais de 98% dos inquiridos afirmaram querer continuar. O problema do estresse revelou-se ainda mais central, desde um momento que muitas empresas do ramo se viram obrigadas a gerir enormes dificuldades ditadas pela incerteza do futuro e encerramentos forçados, que levaram várias empresas a optar por não reabrir, algumas definitivamente.

A solução no Brasil foi o que é mais forte do nosso povo, criatividade, apelar pelas novas tecnologias e se manter atuando mesmo diante da pandemia da Covid-19 e da crise econômica que assola nosso país. Considerando, finalmente, que nós brasileiros, diferente de outros povos, aprendemos a viver nas dificuldades e não desistir jamais dos objetivos pretendidos.

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José Osmir Bertazzoni (63), advogado (OAB/232045) e Jornalista (Mtb 33007). E-mail: [email protected].

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