A Quarta Guerra

Cecílio Elias Netto

 

Escrever o que? Para que? O mundo transformado num barril de pólvora, países imensos protestando e agindo – de que adianta a reflexão de um simples escrevinhador, numa cidade do interior de um país considerado, hoje, pária da história? Dei-me, sim, o direito da fragilidade espiritual.
Quando, porém, acontece, sou despertado por algumas advertências. A primeira delas, a de sermos parte do todo. É o mistério do Universo: “Quando cai, uma folha de árvore estremece uma estrela.” E sou, também, tocado pela historieta do incêndio na floresta. Vendo-o, um sabiá começou a agir: ia até o lago, carregava uma gotinha d´água no bico, jogava-a na mata incendiada. Ia e voltava, repetindo o trabalho incessante. O elefante, ao ver o esforço da avezinha, advertiu-o: “Olha aqui. Eu, com minha tromba, não consigo levar água e apagar o incêndio, imagine você com seu biquinho.” O sabiá não se importou: “Estou fazendo a minha parte.”
É esse cada qual fazer a sua parte – por mínima que seja a participação – que nos obriga especialmente nos momentos agônicos. E como agir, hoje, diante da tragédia que nos atinge? Não sei. Acredito, porém, no tesouro da oração. Não para que Deus intervenha e aja com suas mãos. Mas que Deus traga aos homens – e em especial ao enlouquecido tirano e ao líder dos ucranianos – prudência e sabedoria.
E a nós, piracicabanos, também. Prudência e sabedoria para alcançarmos a exata consciência dos desafios que nos esperam a partir de agora. Escrevo num domingo, mas não há mais como fantasiar a realidade, minimizar a tragédia: o mundo entra numa indefinível e imprevisível nova história. De nós, a mal explicada mundialização, exigiu desde o início: “Pensar globalmente, agir localmente”.
Estamos vivendo um dos momentos mais tristes e amargos de nossa história político-administrativa. A maioria dos eleitores entregou este país a um homem despreparado e ignorante da realidade. Alguém que, além disso, revela insensibilidade moral e social. E indiferença, que o leva a passear, divertir-se enquanto tragédias abalam o Brasil e o mundo. Milhões de seres humanos estão vivendo os horrores da guerra na Europa, e esse homem está passeando no Guarujá. De minha parte, recorro a Castro Alves: ”Deus, ó Deus dos desgraçados, onde estás que não respondes?”
Vivemos, porém, em Piracicaba. Nossa terra, nosso lar, nosso abrigo. E já surgem os efeitos da miséria das guerras. A fome, o desemprego, a alta descontrolada nos preços, a falta de investimentos, agravamento da crise econômica, aumento imprevisível da ocupação das ruas como moradia. E que vão às favas os que pensam ser cassandrismo do jornalista! A gravidade da fragilidade social já estava posta e alguns brincavam de mudar a Pinacoteca, esbanjando o escasso dinheiro do povo. E agora, o que farão? Até onde é possível esperar da sensibilidade e da competência do Prefeito diante do caos que se avizinha? E a Câmara Municipal, será capaz de agir, de exigir, de propor?
Nasci no auge da II Guerra Mundial. Vivi – como jornalista e cidadão – todas as crises sociais, políticas e econômicas nestes meus 66 anos de jornalismo, quase 82 de existência. Estou tentando dizer que tenho medo. Nesse meu medo, lembro-me de Albert Einstein, nosso gênio do século XX. Ao lhe perguntarem como seria uma terceira guerra mundial, Einstein teria respondido: “A terceira guerra, não sei. Mas a quarta será com arco e flecha.”
Poucas vezes, como agora, o mundo – e nós, em Piracicaba – precisou de homens sábios com prudência e sabedoria para governar. Nem que seja uma aldeia.

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