Eu e a Covid: as consequências e a experiência do isolamento

Eloá Calasans de Camargo

 

As consequências e a experiência do isolamento. Foi o que pensei na hora quando soube que estava positivada. Preocupações adversas começaram ali mesmo enquanto o médico receitava as medicações necessárias: medo, impotência e ansiedade! Aquele instante, enquanto ouvia a receita médica, só pensava: e agora? Vou direto para casa? Sim! Direto! Eu ia passar na padaria e no mercado! Planos adiados! Mas e o posto? Preciso abastecer o carro saindo daqui!? Não, não vou mais porque o carro vai ficar na garagem 10 dias e a sensação de não viver coisas simples do dia a dia começaram a tomar conta de mim. Exagero pra você que está lendo? Talvez seja, mas era o que eu estava sentindo e era a minha realidade, portanto, como eu me senti só, fez sentido pra mim e agora eu vejo que faz sentido pra quem esteve perto de mim.

Porque o que vivemos só tem sentido para o outro, se afeta o outro de alguma maneira em algum momento, seja bom ou ruim. E nessa reflexão senti a vontade de escrever sobre isso porque eu era uma pessoa antes da Covid e agora sou outra, não somente pelos efeitos desse vírus devastador que para mim, graças a Deus, foi “leve”, e também por ainda ver pessoas não acreditando no que isso pode causar a uma pessoa e em quem está perto dela. Ver meu filho todos os dias de longe, contando os dias pra poder me abraçar e me beijar e dizendo, “mãe, estou com saudade de tudo que a gente fazia junto”, dar boa noite de longe com coração apertado porque não podemos nos aproximar e tem que esperar, dar bom dia na mesma situação… tudo isso só é leve pra quem não se importa com quem se ama.

Ainda acha exagero? Não posso mudar seu pensamento, é seu direito pensar assim. Alguns devem estar pensando, que exagero dela, pois não viu isso pelo lado bom, não ficou internada e deveria dar graças a Deus por estar bem, vivendo, trabalhando, e podendo de novo estar perto de quem ama. Sim, eu vejo isso e sou grata por isso, mas tenho certeza de que o que vivi foi grande e transformador porque eu não dava valor a pequenas coisas.

Leve é como me sinto agora. Leve é poder expressar o que sinto, na esperança de ser ouvida e sem a preocupação do que vão querer entender agora. Se você acha fácil chegar em casa e não poder beijar e abraçar quem se ama, então isso realmente não te afetará. Conviver com o medo de passar o vírus para quem amo nos dias de isolamento já estava tomando conta de mim. Para mim foi a pior experiência que tive em relação a minha saúde. Os sintomas rotulados como leves são remediados e eles passam, os calafrios insuportáveis, mal-estar atrás de mal-estar. Realmente, eu não tinha ideia de tudo que iria passar. Ninguém tem. Apenas pensa: se eu pegar, fico bem e depois de alguns dias, acaba. Eu pensava assim: todos vão pegar. E aí você pega e vê o quanto tudo faz falta e como as coisas simples são a melhor parte da sua vida. Eu passei por tudo isso e por isso, posso falar: os sintomas podem até serem “leves”, mas os efeitos do isolamento não. Nada é leve quando tira de você a sua liberdade e te afasta ainda que, temporariamente, de quem se ama.

Aos que pensam que é tranquilo, já que todo mundo vai pegar, eu te aconselho a se cuidar. Hoje, não consigo perder mais nenhuma oportunidade de viver. Estou vivendo o momento, realizando coisas simples com alegria as difíceis, enfrentando com ou sem medo. Eu agradeço sim a Deus e a vida e não quero e não desejo isso para ninguém. Se cuidem, isso é sério!

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Eloá Calasans de Camargo, pós-graduada em Psicopedagogia e auxiliar administrativa na Secretaria Municipal da Educação de Piracicaba.

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