Enfrentar o neofascismo com propostas reformistas progressistas

Dorgival Henrique

 

O bolsonarismo demoniza posições democráticas reformistas progressistas e cultiva valores que tecem sua matriz neofascista, tais como o uso da violência, o anticomunismo, o machismo, o racismo, a homofobia. Também critica a corrupção, criminalizando o que ele denomina de velha política, se vendendo como um político antissistema.

Movimento reacionário e conservador, o bolsonarismo é seguido por aproximadamente 25% da população brasileira e se comportará como movimento militante, que necessitará se alimentar, vorazmente, dos valores acima citados.

Desgarrando-se provisoriamente do bolsonarismo, o lavajatismo deseja firmar-se com o discurso de anticorrupção e anticomunismo, mas seu líder deixou trilhas de destruição da economia brasileira, assim como marcas de seu oportunismo político. O lavajatismo e o bolsonarismo são faces da mesma moeda.

O sistema capitalista foi um sistema bem-sucedido ao se expandir no espaço, rompendo fronteiras geográficas, dominando e encontrando soluções éticas e não éticas aos seus problemas, mas a lógica de se mover infinitamente resulta rastros de morte, com uma projeção desastrosa de destruição da vida no planeta.

A esse impulso de movimento ao infinito, tentando domesticar e industrializar tudo o que possa proporcionar retornos financeiros, as contradições do trabalho humano poderão ser superadas pelas leis da física, da química e da biologia, a dar um basta na voracidade sistêmica. Isso por que o crescimento econômico excludente e a custo barato é a corrente “mainstream” e com essas leis em ação a nau do planeta terra poderá ficar à deriva.

A construção de novas organizações políticas sustentáveis já possui os meios e os recursos, falta capacidade de decisões e políticas para enfrentar essa mudança qualitativa. Já dispomos dos meios e dos recursos suficientes para reorganizarmos a sociedade, redirecionarmos o conhecimento visando à construção de novas organizações políticas sustentáveis.

Não podemos deixar que o futuro seja resultante da tirania do presente e muito menos da ideologia neofacista.

Não há como se livrar de propostas reformistas progressistas – que incluam – e nem como deixar que a desigualdade continue a se aprofundar diariamente.

No Brasil há carências múltiplas e isso exigirá programas e políticas sociais e ambientais que poderão incomodar os brasileiros bilionários que vivem de rendimentos financeiros. Será necessário, portanto, enfrentar o neofascismo com propostas reformistas que visem incluir na estrutura cidadã um contingente enorme de nossa população excluída e marginalizada.

Se a democracia brasileira está degenerada, tutelada e ameaçada, há necessidade de defender e apoiar projetos de reconstrução nacional, sobretudo projetos que anunciem as reformas necessárias ao “status quo” vivido

Uma nova arquitetura social é desejável e necessária, mas esta não pode ser resultado das maquetes físicas e virtuais de nenhuma engenharia, mas da participação social na reconstrução democrática de nosso país.

Nossa tradição escravocrata e autoritária, herança de nossa elite do atraso, gerou um dos países com traços culturais mais conservadores e autoritários na América Latina. Por isso, há necessidade urgente de superarmos a desconstrução democrática que estamos vivendo nos dias atuais e substituirmos os espaços de morte por espaços de vida frondosa, sem os quais jamais lograremos alcançar o sonho de uma sociedade justa e sustentável.

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Dorgival Henrique, diretor-presidente do Ipedd –  Instituto Piracicabano de Estudos e Defesa da Democracia.

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