Luís Fernando

Camilo Irineu Quartarollo

 

Se já escreveu um livro ao menos, pode se inscrever na ABL para cargo de imortal, porém acredito que não seja o caso de Luís Fernando Veríssimo. Não o vejo com o perfil de quem goste de aparecer muito, pelo contrário, é o autor por excelência “atrás do jardim do éden”. A obra de Luís Fernando não é apenas um livro de ingresso fortuito numa ABL (Academia Brasileira de Letras), é a extensa obra dedicada para sobreviver nos vários meios de comunicação e com humor. O cara escreve seus temas como faz um escritor independente, mas se a editora lhe dá um tema, também o faz genialmente. É o cara!

Quem está na ABL? Escritores famosos, políticos, artistas. Os escolhidos atualmente são na maioria os que foram sacramentados pela projeção midiática e recebem esse selo de imortais. Luís Fernando não, está bem vivo e consciente. Muitos anônimos usam o nome dele para dar credibilidade ao texto e viralizar nas redes sociais. Foi convidado muitas vezes para ABL, ele agradeceu e declinou dizendo “não tenho perfil de imortal”. Continuou mortal e com seus personagens imortais. Seu estilo é copiado por alguém, um fã ou escritor do povão, um anônimo provinciano, quem sabe. Nem o Luís Fernando o conhece e talvez gostaria.

Luís Fernando parece não ligar para os apócrifos seus e até os elogia. Textos bons, disse ele, mas não meus. Que pena, nem meus! Tem tantos textos bons que gostaríamos de ter escrito, mas temos de ter a honestidade de Luís Fernando. Disse ele “Já fui muito elogiado pelo que nunca escrevi”.

Filho de Érico também escritor, ele enveredou pela escrita por necessidade e talento que não confessa. Também gosta muito de música, saxofone, jaz. Luís, que respeita Érico e a escrita, é um senhor simpatia e de humildade rara. Luís Fernando é tão imortal que nenhuma cópia, plágio, o preocupa.

Escritor exponencial, escreve por temas dele, mas também se a editora pedir algum o faz com discrição e competência como na participação no Clube dos Anjos. Diz que o seu trabalho por vezes o impede de ler mais as obras de outros. O que demonstra que Imortal é mais que um título honorífico, mas a mídia precisa de um nome, as editoras precisam vender.

O Luís não escreveu somente um livro de ingresso de ABL ou aquele “que bombou”, vejo-o como um operário das letras, ao bom serviço da comunicação, cultura e humor sagaz. O bom escritor, penso, consegue pôr na escrita o humor e ironia, coisas que muitas vezes escapam mesmo da oralidade, da conversa cotidiana. O escrito chama aos olhos o dito e não ouvido. É fazer rir para não dilacerar, pensar sem perder a sensibilidade, ver a árvore sem se perder da floresta, comunicar o eterno ainda que mortal. Deixar fluir o inusitado pela linha do texto, fazer-se ouvir o óbvio. É pôr na conversa aquele ou aquela que está em isolamento, tristeza, ou no esquecimento de vida desinteressante.

Imortais são as leitoras e leitores, que leem livros de mortos da ABL ou não.

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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, autor de crônicas, historietas, artigos e livros

 

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