Professora Bebel
A nova variante da COVID-19, denominada Ômicron, se distingue das demais manifestações do vírus por sua alta capacidade de contágio e possibilidade de reinfecção, e está se tornando dominante em todas as nações do mundo.
No estado de São Paulo, de acordo com a Secretaria de Saúde, essa variante levou a uma alta de 152% no número de internações nas últimas três semanas. Soou o alarme e o governo paulista terá de abrir novos leitos de UTI e de enfermaria em todo o estado.
Com boa parte da população vacinada, o Brasil volta suas atenções a dois públicos: as pessoas que, por decisão voluntária, não se imunizaram, e as crianças, cuja vacinação só foi liberada há menos de uma semana, depois de um longo – e crucial – atraso provocado pelo Ministério da Saúde, que, de forma criminosa, instituiu uma consulta pública com o claro propósito de animar as bases radicalizadas (e anti-vacina) do presidente da República, Jair Bolsonaro.
O comportamento anti-vacina vem sendo coibido pelas autoridades com a exigência do chamado “passaporte vacinal”, medida que lembra a todos que o direito à liberdade não é absoluto, especialmente quando o abuso desse direito importa em risco à saúde e à vida de terceiros. Já no caso das crianças, é urgente acelerar o processo de vacinação, tendo em vista o retorno às aulas presenciais nos próximos dias.
Se as primeiras ondas pouparam as crianças de quadros mais graves de COVID-19, embora mais de 300 delas na faixa de 5 a 11 anos tenham morrido desde o início da pandemia, o cenário agora é outro. O avanço da vacinação dos adultos fez com que o vírus passasse a circular mais entre esse público desprotegido. Segundo noticiado pela Folha de S. Paulo em 26 de janeiro de 2022 ao menos sete estados brasileiros estão com ocupação de mais de 80% dos leitos de UTI pediátrica – a grande maioria, em razão de complicações decorrentes da COVID-19.
Além disso, segundo pesquisa do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, 43% das crianças contaminadas pelo vírus sofrem sequelas prolongadas da doença nas 12 semanas seguintes à infecção. A chamada “COVID longa” pode, em alguns casos, levar à quadros sérios de miocardite e diabetes.
Por isso é absurda a decisão da gestão João Doria de não exigir o comprovante de vacinação dos alunos da rede pública estadual para retorno às aulas presenciais, como declarado pelo secretário de Estado da Saúde à CNN em 13 de janeiro de 2022. É insensato, também, não demonstrar que todas as crianças estarão vacinadas na data prevista para início das atividades escolares.
Onde estava o secretário da Educação, Rossieli Soares, enquanto isso? Se omitindo e escondendo-se atrás de sua própria inação.
Recomendamos fortemente que os pais não mandem as crianças não vacinadas para as escolas, lembrando que o próprio Governo do Estado reconheceu que o pico de contágios ocorrerá em cerca de 3 semanas.
Uma administração sensata estaria, neste momento, reavaliando ambos os cenários. Crianças não vacinadas podem ser contaminadas por seus professores vacinados e infectar aqueles que, mesmo protegidos, pertencem a algum grupo de risco.
Não se pode esperar esse cuidado, no entanto, de um governo que fez marketing em cima da vacinação e, em paralelo, agiu de forma irresponsável ao forçar, ao longo de todo o ano de 2021, o retorno às aulas presenciais sem assegurar a vacinação dos profissionais da Educação, que tiveram o ônus de responder por um serviço essencial sem a devida contrapartida na forma de sua imunização.
Foi a luta e pressão desses profissionais, encampada pela APEOESP, aliás, que garantiu o seu acesso ao imunizante. Essa luta, inclusive, inspirou outros sindicatos a buscarem o mesmo em seus estados, o que garantiu à mobilização paulista caráter nacional.
Esse mesmo governo fracassou em executar o orçamento referente à adaptação e reforma da infraestrutura física das escolas. Em junho de 2021, notícia do jornal Folha de S. Paulo apontou que até aquele mês somente 5% dos recursos destinados a essa providência foram gastos.
O Estado de São Paulo perdeu, com isso, uma janela de oportunidade de investir pesadamente na adequação das escolas com vistas à sua reabertura. Já o havia feito em outubro de 2020, quando ignorou estudo técnico encomendado pela APEOESP ao DIEESE e ao Instituto de Arquitetos do Brasil – seção São Paulo, que culminou na publicação de um manual de Escolas Saudáveis com várias recomendações para lidar com os desafios no setor – mais de 80% das escolas do Estado seguem tendo apenas um sanitário para uso dos alunos e 11% (cerca de 600 escolas) não têm pátio ou quadra. 48%, ainda, não têm sanitário acessível para pessoa com deficiência.
O quadro mostra que a distância entre discurso e prática, em São Paulo, é muito maior do que a que separa João Doria e Jair Bolsonaro. A diferença de ambos não está na ação, mas tão somente no discurso.
Que o Governo do Estado reveja suas posições e vacine as crianças o mais rapidamente possível, para impedir a tragédia que se avizinha a cada dia.
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Professora Bebel é deputada estadual pelo PT, presidenta da Apeoesp e líder da bancada do PT na ALESP.