Frei José Orlando Longarez
Para este ano novo, ainda pandêmico, ano de eleições federal, estadual e provincial, quero falar sobre “A melhor política” do Papa Francisco, capítulo V da Fratelli Tutti. Como uma sagrada vacina, a “boa política” de Francisco, vem curar nossa doentia consciência política. Escrevo especialmente para as nossas amadas fraternidades franciscanas seculares, OFS Regional Sudeste.
É possível o desenvolvimento de uma comunidade capaz de realizar fraternidade a partir da amizade social – todos irmãos – com a “política melhor, a política colocada a serviço do verdadeiro bem comum.”
Ainda sinto entre nós, capuchinhos e nas nossas fraternidades, um indiferente e velado “desprezo pelos vulneráveis”. “É palpável a dificuldade de pensar em um mundo aberto onde haja lugar para todos, que inclua os mais frágeis e respeite as diferentes culturas”.
Francisco nos pede para não “ignorar a legitimidade da noção de povo”, a noção de pertença à fraternidade universal – Fratelli Tutti – e local. Fazer desaparecer nossa consciência de pertença, “poderia levar à eliminação da própria palavra ‘democracia’, cujo significado é precisamente ‘governo do povo’”. Nossas fraternidades através dos conselhos eleitos, pensa e age democraticamente com objetivos comuns e projetos compartilhados. O pertencer a uma fraternidade “é fazer parte de uma identidade comum, formada por vínculos sociais, políticos e culturais… rumo a um projeto comum”.
Nas nossas fraternidades e nos partidos políticos, “existem líderes populares capazes de interpretar o sentir de um povo… O serviço que prestam, congregando e guiando, pode ser a base para um projeto duradouro de transformação e crescimento… na busca do bem comum”.
Uma fraternidade “viva, dinâmica e com futuro é aquela que permanece constantemente aberta a novas sínteses, assumindo em si o que é diverso.” Haja diversidade entre nós franciscanos dentro do povo de Deus, na nossa bendita Igreja em saída! Nossas fraternidades podem evoluir politica e socialmente “com seu esforço e criatividade e com a disposição de se deixar mover, interpelar, crescer, enriquecer por outros…”.
Ser verdadeiramente fraterno nas questões do trabalho, “ser verdadeiramente popular porque promove o bem do povo. Ser fraterno é garantir a todos a possibilidade de fazer germinar as sementes que Deus colocou em cada um, suas capacidades, sua iniciativa, suas forças. Esta é a melhor ajuda para um pobre, o melhor caminho para uma existência digna” de nossas fraternidades.
Francisco denuncia que “em certos contextos – diria até em nossas fraternidades – é frequente acusar como populistas aqueles que defendem os direitos dos mais frágeis da sociedade”.
“A verdadeira caridade é capaz de incluir tudo… O amor ao próximo é realista e não desperdiça nada que seja necessário para uma transformação da história que beneficie os últimos”.
“É necessário fazer crescer não só uma espiritualidade da fraternidade — franciscana — mas também e ao mesmo tempo, uma organização mundial mais eficiente para ajudar a resolver os problemas prementes dos abandonados que sofrem e morrem nos países pobres. Não existe apenas uma via de saída…” Como irmãos, fratelli tutti, propor caminhos diferentes, quem sabe “reconhecer a necessidade de uma mudança nos corações humanos, nos hábitos e estilos de vida”.
Francisco fala agora diretamente para nossas equipes de formação: “A tarefa educativa, o desenvolvimento de hábitos solidários, a capacidade de pensar a vida humana de forma mais integral e a profundidade espiritual são realidades necessárias para dar qualidade às relações humanas… Devemos voltar a pôr a dignidade humana no centro e sobre o pilar da fraternidade devem ser construídas as estruturas sociais alternativas das quais precisamos”.
Aqui no Brasil com este governo com economia para banqueiros, grandes empresários e agronegócio, “parece que não têm lugar os movimentos populares que reúnem desempregados, trabalhadores precários e informais e tantos outros que não entram facilmente nos canais já estabelecidos”. Movimentos tais como MST e outros de “variadas formas de economia popular e de produção comunitária. É necessário pensar a participação social, política e econômica segundo modalidades tais que incluam os movimentos populares e animem as estruturas de governos locais, nacionais e internacionais com aquela torrente de energia moral que nasce da integração dos excluídos na construção do destino comum…”.
Papa Francisco batiza os movimentos populares como ”semeadores de mudança, promotores de um processo para o qual convergem milhões de pequenas e grandes ações interligadas de modo criativo, como em uma poesia”! Quem sabe em nossas pequenas fraternidades, nossas irmãs e irmãos “nesse sentido são ‘poetas sociais’ que, à sua maneira, trabalham, promovem e libertam”! O Senhor nos libertou para que sejamos livres!
“Graças a Deus muitos grupos e organizações da sociedade civil”, assim como nossas fraternidades, “realizam esforços admiráveis com o pensamento no bem comum e alguns dos seus membros chegam a cumprir gestos heroicos que mostram de quanta bondade ainda é capaz a nossa humanidade”.
Francisco insiste em ”uma caridade social e política!”.
“Atualmente muitos possuem uma noção ruim da política…” Contudo, poderá o mundo funcionar sem política? Poderá encontrar um caminho eficaz para a fraternidade universal e a paz social sem uma boa política?
Neste ano é urgente nos envolver social e politicamente nas eleições! Termino aqui, depois teremos uma segunda parte, vamos nos vacinar com a melhor política do papa Francisco.
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Frei José Orlando Longarez, OFMCap