Dirceu C. Gonçalves
Janeiro termina com quadro alarmante. Na última segunda-feira, dia 24, o mundo registrou 8.209 mortes pela Covid-19, a maior média móvel dos últimos meses. No Brasil a média, que havia baixado para menos de 100, passa dos 300 por dia e está em alta. Nas 24 horas fechadas às 20h00 de 25/01, registramos 489 óbitos. Verifica-se o ressurgimento da desumana fila de pacientes para obter internação em leitos de enfermaria ou UTI. A ocupação das vagas de terapia intensiva já bateu 80% em seis Estados (Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte) e no Distrito Federal. Em São Paulo é de 65% e no Rio de 62%, com quadro agravado e crítico nas capitais. O contágio é o maior em 18 meses e hoje apresenta um componente a mais: milhares de trabalhadores da área da Saúde – justamente os que tratam as vítimas da pandemia – estão em quarentena, também contaminados. Repartições públicas fecham ou passam a atender com restrições por falta de pessoal, e aumentam as filas nos pronto-socorros e áreas primárias de saúde.
O ambiente, que chegou a ser de fim de pandemia – tanto que as restrições foram suspensas e quase tivemos autorização para retirar a máscara. Mas a velocidade de propagação da ômicron – que já fez muitos estragos mundo afora – está fazendo seus danos em território brasileiro. A esperança é que se confirme a sua menor letalidade informada pelas autoridades sanitárias e os infectados – ou pelo menos a maioria deles – não tenha consequências maiores do que os sintomas de uma gripe forte. A preocupação continua em relação aos portadores de comorbidades (doenças crônicas que os fragilizam). Estes já foram as grandes vítimas desde o começo da pandemia e continuam expostos ao risco maior.
Com 80% da população vacinada, esperamos não repetir os níveis insustentáveis dos anos anteriores, quando chegamos a registrar mais de 4 mil mortos num só dia. Mas os governantes e setores da saúde precisam ser diligentes para evitar a desasistência que – mesmo numa expectativa de menor gravidade – pode levar ao pânico. A informação de que a maioria dos que têm ido a óbito – veiculada em diferentes veículos de comunicação – poderá ser de utilidade para alertar e chamar à regularização os que fugiram ou rejeitaram a vacina. Mas tem de ser produzida com responsabilidade e critério para não parecer uma simples campanha pois, quando se fala de vítimas fatais, não se admite seu uso dessa maneira.
Apesar do agravamento momentâneo, a crença é de que o mal não se alongue. Tanto que muitas cidades – inclusive São Paulo e Rio de Janeiro – já adiaram o carnaval para o final de abril. É preciso trabalhar para que isso se concretize – nem tanto pela festa, mas pelo fim da crise sanitária – e a população possa gradativamente voltar à vida normal. Nos enche de esperança o pronunciamento de |Hans Kluge, diretor regional da Organização Mundial da Saúde para a Europa, de que a passagem da variante ômicron por aquele continente pode significar o fim da pandemia. “É plausível que a região esteja chegando ao fim da pandemia” – disse o executivo, prevendo que pela velocidade a ômicron infectará a maioria dos europeus durante as pr óximas semanas e, ao lado da vacinação, os tornará imunes.
Como estamos algum tempo atrás da Europa na infestação da ômicron, é interessante observar os seus desdobramentos lá para nos comportar de forma a ter aqui os resultados que também apontem para o fim da pandemia. Por enquanto, precisamos de atendimento aos que procuram os serviços de saúde com os sintomas, cuidados por parte da população e muito equilíbrio das autoridades para evitar lockdowns, quarentenas e outras restrições que o passado já demonstrou desnecessárias ou até ineficientes. E ainda mais: que não usem a pandemia para fins políticos e eleitoreiros, pois isso é desumano e odioso…
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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo). E-mail: [email protected].