Pisar correto para andar direito

Walter Naime

 

O ano está começando. Vamos começar com o pé direito. Pisar correto para andar direito.

Os pés formam a base de sustentação do corpo e constitui parte dos membros de grande importância para a locomoção.

Tudo que tem corpo e massa sofre atração da gravidade.

Ao nascermos ao tentar locomovermos, pelo princípio da ação e reação para vencer a força da gravidade os nossos músculos são postos à prova para a sua constituição. Nesse desenvolvimento vão aparecendo a maioria dos problemas advindos dos nossos pés que tem a incumbência de sustentar e movimentar as cargas do corpo. Essa carga quando anormais variam de trinta a trezentos quilogramos por pessoa. Na normalidade variam entre trinta a cem.

A engenharia dos pés é bem complexa na área de sua resistência e composição de forças que regem os movimentos trazendo o aparecimento de esforços que desafiam o entendimento para manter o equilíbrio dos mesmos.

Do andar descalço ou sem proteção nos pés, o ser humano se colocou em risco vindo criar equipamentos com solas de tipos diferentes até atingir o desenvolvimento dos tamancos, chinelos, alpargatas, sapatos, tênis.

Com todos esses cuidados ainda sobram os problemas biológicos.

Surgem com isso pessoas que vão se dedicar a diminuir as dores dessas pontas de membros, fazendo corretivos à “Engenharia do corpo”. Nesse momento são formados os calistas, os podólogos, os ortopedistas na tentativa da cura desses males.

Da inspiração ao transitarmos pela Rua XV de Novembro nº 776, onde fica a loja Zaz-Traz onde se consertam sapatos, sentimos o desejo de homenagear o NOTÁVEL amigo e artesão Carlos Roberto Forti.

Ele é o Carlão que ficando colocado em sua cadeira de trabalho ou uma máquina de costura ou politriz, comanda uma equipe de abnegados pela sua atuação.

Com uma linha e agulha nas mãos, escolhe o botão colorido ou metálico para afixar em uma bolsa e enquanto isso alinhava com todo cuidado os momentos de sua existência, fixado no ato de servir bem, pondo o seu talento artesanal a serviço do próximo.

Não é necessário salientar que em todo o percurso do trabalho os sacrifícios normais aparecem, mas como o controle e equilíbrio se fundem aparece o sabor da realização. Com o dói aqui, dói ali; passando da hora do comer ou beber; não se dormiu bem; com a coluna dorsal problemática vamos em frente. Tudo isso vem coroar a satisfação de ter executado, aquilo que vai alegrar a vida das pessoas.

Esse Carlão, que deu continuidade a profissão de família, sendo um grande profissional, ainda em seus contatos pessoais transmite uma filosofia de luta e de viver com sabedoria.

O Carlão não entende só de pé, entende também do que vai pela cabeça. Como resultado, fica claro o que foi falado no parágrafo anterior e a frase “do couro sai a correia”, ajuda a clareza, pois “quem não gosta do samba bom sujeito não é, ou é ruim da cabeça ou doente dos pés”.

Por se falar em “correia”, ao se cuidar do “Pisar correto para andar direito”, nela está embutida a parte moral do nosso trabalho, pois assim procedendo estaríamos obedecendo o que a mente ordena nos futuros passos de uma longa caminhada, para que não sejam dados furtivamente. Para isso faz se necessário implantar na consciência o propósito da caminhada nas linhas da lisura, da lealdade, da pro atividade, da transparência e dos bons costumes, trazendo valores a sociedade a que pertence.

Você pode não conhecer o Carlão, que fica escondidinho no fundo do seu estabelecimento, porém conhece o resultado do seu trabalho, que às vezes é entregue em cima de um simples balcão e sempre vem somado à vontade de bem servir.

Assim com uma “martelada no prego e outro na ferradura”, nunca no dedo, o Carlão continua com a sua missão, orientando o “Pisar correto para andar direito”.

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Walter Naime, arquiteto-urbanista, empresário

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