João Ribeiro Junior
Apalavra democracia terminou por ter o destino de todas as palavras: perdeu seu sentido original. A democracia representativa é uma organização, não do povo, mas dos representantes do povo, escolhidos pelo sistema mais falso e mais prejudicialmente seletivo. Tornou-se, de verdadeira representação popular, em regime de caçadores de cargos eletivos, com toda a degenerescência consequente dos que transformaram os meios em fins.
O Brasil tem condições ainda fracas para formar uma democracia. A índole pacífica e hospitaleira do nosso povo é realmente democrática, mas a inércia, decorrente do analfabetismo, da incultura e da falta de saúde, não lhe permite aspirar a responsabilidade. Aceita fatos consumados. E povo fatalista. Tais condições permitiram que o sistema de representação, que deveria ser seletivo para melhor, o fosse para pior. Faar de certos homens públicos (como Lula e caterva), de sua venalidade (como político corrupto) e de sua incompetência, seria até de mau gosto, porque todos sabem como essas notas são marcantes da nossa política, apesar das honrosas de exceções de homens bem-intencionados, que se veem coartados pela ação dissolvente dos politiqueiros, cujo passado é tão sujo como uma coacla. A seleção de valores será sempre frustrada, e muitos homens dignos de nossa terra negam-se a ombrear com certos politiqueiros por questão de pejo. Ora, esses valores são desconhecidos do povo, porque eles não buscam a notoriedade mentirosa e enganadora. Portanto. Portanto, nunca serão elevados aos altos postos. Além disso, os políticos mal-intencionados não os quereriam por serem incômodos e iriam atrapalhar seus desejos de enriquecerem ainda mais com o dinheiro do povo. Além de aumentarem o desvalor de mitos, que demostraram sua incapacidade guindados aos altos postos, não pactuariam cm certos arranjos. Dessa forma, está vedada, enquanto continuarem, a elevação de homens dignos e competentes.
Essa realidade triste de nossa terra é própria do espírito paleotécnico que ainda a domina, e frustra a ação desinteressada e honesta daqueles homens públicos, que, realmente, visam o bem de seu povo. E assim caminha o Brasil para seu futuro incerto.
___
João Ribeiro Junior, advogado (USP), docente de Direto Constitucional e de História, doutor em Educação, mestre em Filosofia (Unicamp)