Alex Gama Salvaia
Já no início, é bom se ter em mente que o que os animais precisam é de atendimento veterinário e não de hospital. Hospital veterinário é para satisfazer anseios de políticos que precisam “mostrar” serviço ao eleitorado. Ano passado, a Prefeitura estudou a oferta do governo do Estado em construir um hospital veterinário na cidade, com o compromisso de que o município deveria destinar R$ 1,8 milhão/ano para custeio dessa unidade de saúde pet.
Quem seriam os usuários desse serviço? Pessoas que não possuem capacidade de pagamento de serviços veterinários na rede privada. Pois bem. Foi feito o estudo e constatou-se, já de cara, que essas pessoas, em sua grande maioria, não possuem carro para transportar seu pet até o hospital veterinário. Também não podem levar seu animal no sistema de transporte público. Já encontramos aí um grande entrave ao sucesso de um hospital veterinário em Piracicaba.
Como se não bastasse, também foi analisado que, considerando a burocracia no processo de licitação a que o poder público está sujeito, do anúncio da obra até sua conclusão e abertura para funcionamento, possivelmente, se passaria pelo menos 1 ano e nesse intervalo os animais continuariam sem atendimento.
Há também os animais de médio e grande porte que teriam ainda mais dificuldades de serem transportados. Com clínicas credenciadas, esses profissionais poderiam se deslocar pouco para atendimento desses animais. Foi identificado outro ponto preocupante, que é a concorrência com pequenas clínicas veterinárias, muitas delas na periferia e que prestam importante serviço à população, sobretudo, aos mais carentes. Poderia causar a falência de muitas e isso não seria adequado ao interesse público.
Qual seria, então, a melhor opção? Com base nesse estudo, a melhor opção discutida foi a de estabelecer um credenciamento de veterinários na cidade (inclusive na zona rural), que passariam a atender diretamente a população perto de sua residência e por alguém que, muitas vezes, é conhecido.
Como você já notou, essa opção agrada a todos os que realmente estão preocupados com a causa animal e com as pessoas carentes de Piracicaba. Como bônus, agrada, reconhece e valoriza os profissionais da medicina veterinária, que muitas vezes, cobram valores aviltantes para não deixar o animal sem atendimento, mesmo que isso implique em inviabilizar seu sustento.
O custeio de um hospital, que sempre é um valor elevado, exige do poder público um comprometimento sem fim com um modelo que pode ser frustrante para o munícipe. Uma vez construído e com equipe contratada por meio de concurso público, não é possível mais deixar esse compromisso, mesmo que ineficiente. Por outro lado, o custeio destes serviços por meio da rede privada, estimula a melhoria contínua, privilegia os profissionais que melhor atendam as pessoas e seus pets, oferece um serviço de qualidade bem pertinho da residência das pessoas.
Esses foram apenas alguns dos pontos analisados e discutidos na Prefeitura. Os animais não falam – eu sei – mas se por apenas um momento, imaginássemos que eles podem falar, o que acham que responderiam às seguintes perguntas: Você prefere ser atendido daqui pelo menos um ano ou muito antes disso? Prefere uma cerimônia de inauguração, com autoridades discursando por horas, a mídia cobrindo e políticos usando isso para pedir voto na próxima eleição, ou prefere ser tratado e curado o mais rápido possível? Prefere ter um médico veterinário bem pertinho da sua casa ou ter que viajar longas distâncias para chegar a um único hospital? Se você tiver que ser internado, prefere que seja mais próximo de casa, para poder ser visitado pelo seu humano ou longe de casa, ainda que a distância possa impedi-lo de lhe ver diariamente no hospital?
As respostas ficam a critério da imaginação de cada um. Graças a Deus, a decisão foi tomada pensando no interesse público e no interesse do bem-estar animal. Piracicaba está se tornando uma cidade de respeito!
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Alex Gama Salvaia, advogado, professor universitário e atual secretário de Defesa do Meio Ambiente de Piracicaba