O sofrimento do povo carnavalesco

José Osmir Bertazzoni

 

Os anúncios que o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, deveria fazer ao vivo nas redes sociais tornam-se muito amargos. Atualmente, Paes é socialdemocrata, mas já passou por sete outros partidos — uma prática comum na política brasileira — compartilhado pelo atual presidente Bolsonaro.

Eduardo Paes foi prefeito no Rio de Janeiro entre 2009 e 2017 pelo PMDB (partido de centro), ele volta ao comando na cidade do carnaval mais famoso do mundo, após derrotar, em 2021, Marcelo Crivella na votação, com 64,07% dos votos. Crivella é Bispo de uma igreja neopentecostal fundada por seu tio, Edir Macedo, e, em seus quatro anos de mandato, boicotou aquele evento “pagão” e “pecaminoso” em todos os sentidos, cortando fundos e provocando incertezas para que as mais tradicionais Escolas de Samba não conseguissem o intento de dar vida à alegria do povo carnavalesco.

Não há dúvida de que a eleição em favor de Paes teve como forte apelo o descontentamento popular pelo inédito boicote a um acontecimento que é o grande cartão de visitas da cidade no mundo, o que tem também um impacto econômico negativo em razão do turismo nacional e internacional. Pelo menos 1,2 bilhão de dólares por ano eram gerados em razão das festividades carnavalescas. Mas a Covid-19 veio, após Crivella, e trouxe mais incertezas às festividades populares.

O Brasil é o segundo país do mundo mais afetado pela Covid-19, perdendo apenas para os Estados Unidos, o país já teve 620 mil mortes até o final de 2020. Mas as desgraças não param, além da variante Ômicron, a gripe influenza também chegou — nova combinação mortal entre Covid-19 e gripe sazonal, da qual o Brasil é o primeiro país a ser atingido em todo o continente.

Os primeiros casos, duas crianças com um ano e um senhor com 52 anos, em Fortaleza, levantaram o alerta. Mas também haveria um jovem de dezesseis anos no Rio e outros casos confirmados em São Paulo. Resumindo, o Carnaval em sua totalidade não pode ser feito de forma alguma. “O carnaval de rua, por sua própria natureza, possui caráter democrático, impossibilitando qualquer tipo de controle”, reconhece o prefeito do Rio de Janeiro.

Em um encontro entre Eduardo Paes e as Escolas de Samba, chegou-se à conclusão óbvia, seria loucura dar tanto espaço para doenças infectocontagiosas que poderiam arruinar de vez o país.

Algumas alternativas foram apresentadas, porém nada que possa superar as expectativas dos carnavalescos, e o prefeito Eduardo Paes fica em uma saia justa para controlar a situação junto aos seus apoiadores.

Não apenas o Rio de Janeiro, mas também cerca de sessenta outras cidades brasileiras não celebrarão o Carnaval em sua plenitude. Em São Paulo já está decidido, pelo Governo João Dória, que não serão permitidos os festejos populares; devem seguir os mesmos caminhos cidades importantes, como Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Salvador etc. Outros Estados brasileiros certamente interromperão essas atividades em defesa da saúde pública.

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José Osmir Bertazzoni, jornalista e advogado. E-mail: [email protected]

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