Uma outra economia é possível

Adelino Francisco de Oliveira

 

O que a política econômica neoliberal entregou para o povo brasileiro nesses últimos anos?    As propagadas reformas intensificadas desde 2016, com o golpe que destituiu o governo eleito de Dilma Rousseff, trouxeram o que para a população em situação de maior vulnerabilidade? Estado mínimo, política de austeridade, meritocracia, economia de livre mercado, o que tais concepções têm a entregar para o povo mais pobre? Privatizações, teto de gastos, reforma trabalhista, reforma previdenciária, diminuição do Estado, ausência de investimentos públicos, essas políticas geraram quais benefícios para o conjunto da população? O que o neoliberalismo tem a oferecer para os pobres?

Essas indagações são urgentes e necessárias, diante do atual cenário social de mazelas, demarcado por desemprego, desalento, pobreza e fome. É possível ser mais criativo no campo da política econômica ou a sociedade está fadada a reproduzir a lógica do capitalismo neoliberal? A economia é uma ciência, produzida pelo ser humano ou é um dado da natureza, sem possibilidade de sofrer qualquer alteração? Em outras palavras, é possível a elaboração de uma política econômica que dinamize justiça social e seja capaz de superar as formas arraigadas de exploração, opressão e exclusão?

Até agora a iniciativa privada não demonstrou nem disposição nem capacidade para enfrentar as graves contradições da sociedade. Os problemas cotidianos relacionados à habitação, à saúde, ao transporte, à educação, à alimentação, ao saneamento básico etc não encontram nenhuma resposta em iniciativas advindas do setor privado. Em um contexto de muitas mazelas sociais, os mais ricos têm acumulado ainda mais riquezas, perpetuando e acentuando um ciclo de desigualdades sociais que só faz crescer a realidade de injustiças.

A pobreza é a condição mais aviltante e degradante para a existência, na medida em que impede, impossibilita o desenvolvimento das múltiplas potencialidades do humano. A pobreza reduz a vida à luta da mera sobrevivência, relegando a uma existência desprovida de qualquer direito. É tarefa da política construir, de maneira criativa e inovadora, alternativas sociais e econômicas, em uma concepção profundamente includente de sociedade. Superar a pobreza é o grande desafio do tempo contemporâneo.

O fracasso do modelo econômico neoliberal é público e notório. Na pandemia, por exemplo, o livre mercado não apresentou nenhuma solução para a fome, para o desemprego, para o desalento, para a pobreza extrema. Ao contrário disso, os operadores do mercado, senhores do mundo, aproveitaram a desgraça alheia para acumularem ainda mais bens e riquezas, para usurparem os parcos direitos que a classe trabalhadora conseguiu conquistar ao longo de anos ea custas de intensa luta.

Uma outra economia é possível, urgente e necessária. Uma economia que tenha a vida – em sentido amplo, envolvendo o próprio planeta – como centralidade ética. Uma economia que alavanque o desenvolvimento de maneira sustentável eecológica, integrando e equilibrando a sociedade e a natureza. Uma economia que possibilite o compartilhamento dos bens produzidos pelo conjunto da sociedade. Uma economia que realize, na história, a utopia de um mundo para todos e todas, em uma profunda integração ecológica. É essa economia que somos desafiados a construir, a partir de um outro jeito de pensar e fazer política.

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Adelino Francisco de Oliveira, professor no Instituto Federal, campus Piracicaba; Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião; [email protected]@Prof_Adelino_; professor_adelino

 

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