Marvel para quem não gosta do Universo Marvel

Edson Rontani Júnior

 

A comédia romântica, rotina do cinema entre os anos 1940 e 60, é o mote principal de “Wanda Vision”, produção de 2021, lançada na Disney +. Este estilo de drama sobre a vida caseira entremeado por risos, numa situação totalmente ingênua para os dias de hoje se alastrou nos programas de TV, as denominadas “soap operas”, de 1950 até 1970. Nesta escola de cinema/tv estão “Papai Sabe Tudo”, “I Love Lucy”, “Feiticeira”, “Família Do Ré Mi” e muitos outros.

Para entender um pouco mais sobre este universo, estreou às vésperas do Natal, no Amazon Prime, “Apresentando os Ricardos”, com Nicole Kidman (!!!) interpretando Lucille Ball, de “Eu amo Lucy”. “I Love Lucy” chegou a ter audiência de 60 milhões de americanos em um único episódio.

O mote é simples. Na tela de sua casa, o expectador vê uma sequência pelo prisma do personagem principal, nunca como o coadjuvante. Se uma cegonha aparece ao fundo, apenas nós – os expectadores e os atores principais – vemos. A cada olhadela para trás do coadjuvante, a ave some numa nuvem de fumaça que se desfaz com o balançar de suas asas. Aliás, esta cena aparece em um dos episódios de “Wanda Vision”.

Assim a Marvel se baseou num dos principais lançamentos desua carta de seriados no canal de streaming Disney + (lançado há pouco mais de um ano para concorrer com Netflix, Amazon e Globoplay, entre outros).

Quem gostou dos blockbusters de Os Vingadores como “Ultimato” ou “A era de Ultron” pode esquecer este seriado que tem a duração de nove episódios e já promete uma segunda temporada para 2022. Filmado em preto e branco nos episódios iniciais e colorido com o avançar da história, ele relata a vida paralela criada por Wanda Maximoff como seu mundo particular. Ela,de origem sérvia, durante os conflitos de seu país, assistia aos principais seriados norte-americanos do passado, como os citados anteriormente. Wanda personifica tudo o que consumiu vendo TV durante sua infância, sem dar a chance de descobrirmos que, ao final, se transformará na Feiticeira Escarlate, personagem criada em 1964 por Jack Kirby e Stan Lee.

Esta redoma é real, pois Wanda ocupa uma pequena cidade chamada de Westville onde mantém centenas de pessoas reais como personagens coadjuvantes e monta seu mundo perfeito para compensar a perda de seu amado Visão, um autômato de 6 bilhões de dólares que morre em “Guerra Infinita”. Este é o sentido do seriado: o amor diante da perda irreparável, mesmo que de seres criados pela inteligência artificial.

O enredo parece simples. Mas, não é. Amantes do Universo Marvel se identificarão com uma ou outracena ao longo dos episódios. A comédia parte para o drama meloso. A ficção se mistura à realidade e começa um jogo de perseguição entre o diretor daSword e Wanda. Neste meio tempo, ela recebe ajuda com segunda intenções da vizinha enxerida (lembra de Agnes, que morava ao lado da“Feiticeira”?) a qual participa da rotina na casa da colega, mas quer para si os poderes de Wanda.

Diferente dos demais seriados da Marvel como “Loki” ou “Gavião Arqueiro”, “Wanda Vision” busca ser um atrativo para uma geração mais madura, com referências no mundo do cinema e da televisão. Aliás, Marvel sempre foi quadrinhos, desde quando seus primeiros personagens eram apresentados em tiras diárias nos jornais dos anos 1930. Nas duas últimas décadas firmou seu nome na telona, o que agradou a geração mais recente e deixou desgostosa aquela geração que vibrava com as HQs da EBAL e outras editoras nacionais.

Os dois últimos episódios de “Wanda” são os mais emotivos deixando claro que super heróis choram e fazem a plateia chorar junto. Explosões, perseguições, tiros … Sim ! Tudo isso existe como incansavelmente vemos há anos nos filmes da Marvel. Mas aqui, super heróis, como o autômato Visão, se tornam humanos e ingênuos. Ele é recriado na imaginação de Wanda, uma vez que seu corpo metálico está sendo reconstruído para ser mais letal.

O seriado dá a visão – olha do duplo sentido aí ! – que a Disney está com projeções mais família, como sempre foi, desde quando Walter Elias Disney era vivo, na intenção de integrar pais, filhos e netos, formando e cativando as gerações atuais para algo de tangível no mundo do streaming.

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Edson Rontani Júnior, jornalista e cinéfilo

 

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