Não temos de cobrar os governantes, temos de exigir

José Osmir Bertazzoni

 

Cada dia mais, pergunto-me qual é senão a inocência ou o desleixo dos eleitores inexperientes? A razão pela qual os candidatos sempre dizem: “governaremos juntos, serei o senador do povo, deputado do povo, governo do povo, serei um de vocês, compartilharemos tudo”. Seria difícil entender que isso não é democracia, mas, sim, puro populismo temperado com fraude eleitoral pelas próprias consequências, crime, absolutamente ato criminoso contra a fé pública?

Enquanto isso, nunca houve um escolhido (a crisálida metamorfoseada) que realmente assume as cadeiras do poder se entregam a outras pautas que não as do interesse da justiça social e do desenvolvimento nacional, com geração de emprego e rendas.

Nunca vivenciaremos esse fenômeno nessa geração perdida, mas, acima de tudo, segundo nossa Carta Maior estaríamos vivendo em uma democracia representativa, fundada no princípio da delegação.

Está cravado em fontes legíveis, basta ler no artigo primeiro da Nossa Constituição Cidadã em seu Parágrafo único: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

Para Jean Jaques Rousseau, a única maneira de conciliar liberdade e igualdade com um governo é através da democracia, nunca com um poder absolutista, em que apenas uma pessoa governa e todas as demais devem obedecer. Em uma democracia, todas as pessoas têm coletivamente o respeito e o poder, todas têm o mesmo poder político.

Apesar destas garantias e ensinamentos, políticos criminosos praticam e os tolos caem nessa conversa de estelionatário — como nas últimas eleições, em que tivemos abstenção histórica, deduzo que para quem não votou a democracia não é problema “nosso”.

O engano não só é desconsolante como irresponsável, pois os péssimos políticos eleitos, é um retrato do coeficiente eleitoral reduzido que levou as Câmaras de Vereadores e outros poderes a resultados que não gostaríamos que acontecessem, agora somos obrigados a conviver com negacionistas, terraplanistas e defensores de um regime de exclusão, carregando nos seus ódios a divisão de um povo e o pedido de retorno à ditadura.

Na verdade, em vez de abrir e contribuir com os parlamentos, deixamos tudo nas mãos de ocos, caricatos, loucos e todos os tipos de políticos que não nos favorecem em nada no contexto coletivo, jogam apenas com seu eleitorado miúdo.

Os nossos parlamentares eleitos se constituem em aberrações que fizeram da democracia uma lata de atum, os porta-estandartes da democracia direta fizeram dela o órgão de ratificação de decisões tomadas “em outro lugar”.

Que na próxima eleição dissolvam esta nova política do “é dando que se recebe”, interpretadores deste provérbio em seu pior sentido, os vendilhões do templo. Lembrem-se, o artigo 3° da nossa Constituição não é promessa de político, é obrigação dos governos, política de estado, cláusulas pétreas (que não podem ser modificadas).

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Para fazer um país melhor o voto não tem de ser obrigatório, mas sim um dever cívico inalienável.

______

José Osmir Bertazzoni, jornalista, advogado

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima