Italianos graças a Deus

José Osmir Bertazzoni

 

Os imigrantes italianos pelo mundo; no Brasil meu nonno Pietro Bertazzoni e suo babbo Giussepe e mama Silvia pisaram em solo piracicabano, em 10 de outubro de 1905, de onde nunca mais saíram, criaram filhos, netos, bisnetos e já avançamos para a quinta e a sexta gerações de italianos brasileiros.

Por que italianos brasileiros? Um italiano nunca deixa de ser italiano, não importa onde ele venha a nascer, e todos nós italianos que nascemos no Brasil somos brasileiros, por consequência, somos ítalo-brasileiros com muita honra.

Por quase um século, a Itália ignorou o período sombrio das imigrações e, hoje, percebem que o país somente sobreviveu graças ao esforço e ao trabalho daqueles que deixaram sua terra natal para construírem suas vidas em outras plagas, mandando recurso financeiros para seus entes queridos que lá ficaram.

Em função dessa história que bem conhecemos, com algum atraso na previsão inicial — visto que deveria ter sido inaugurado no dia 02 de junho passado, por ocasião da Festa da República — o ministro Franco Frattini anunciou a inauguração do Museo dell’Emigrazione. Com muita importância o museu foi inaugurado, no complexo Vittoriano, em Roma e mantém a dimensão de um dos mais importantes para resgatar, preservar e enaltecer o fenômeno da emigração italiana do final do século XIX e início do século XX. O anúncio foi feito pelo subsecretário do Ministério do Exterior, Alfredo Mantica, durante a apresentação oficial da IX Settimana dela Lingua Italiana nel Mondo.

O fenômeno da emigração foi praticamente “esquecido” a partir de um entendimento de que representava uma passagem negativa, quase vergonhosa, da história italiana. Essa, ao menos, é uma das explicações que se dá para esse período da vida do país ter sido relegado aos mais obscuros e intangíveis escaninhos da memória da Itália. Agora, aos poucos, concomitante a novas interpretações do processo — que inclusive já vislumbram no emigrante uma espécie de herói, afinal, os recursos que remetia à terra natal ajudaram o país em um momento crucial — a Itália como que revela disposição em acertar as contas com o seu passado, resgatando e revalorizando circunstâncias como as que envolveram o êxodo ocorrido no final do século XIX e início do século XX.

Recentemente, o deputado Fabio Porta, eleito pela circunscrição da América do Sul, apresentou no parlamento italiano projeto de lei que institui a obrigatoriedade de o fenômeno da emigração constar do currículo das escolas do país. E, agora, o Ministério do Exterior está informando que finalmente será preenchida uma das principais lacunas da memória nacional, com a abertura para o público do Museo dell’Emigrazione, instalado no Complesso del Vittoriano, sede do Museo del Risorgimento, em Roma.

Pela primeira vez na história italiana, será possível vislumbrar o imenso patrimônio histórico-cultural italiano inerente à emigração, em percurso que se articulará em cinco sessões principais: um percurso histórico de referência, um percurso expositivo regional, uma galeria da emigração multidisciplinar e interativa, um espaço de acesso ao portal web especialmente realizado para o museu e, por fim, o cenário para mostras temporárias e de aprofundamento geográfico e temático.

O percurso do museu se desenvolve de forma articulada sob o ponto de vista didático e materiais de diversos tipos: literatura, cinema, documentários, músicas, testemunhos em áudio, fotos, jornais e revistas de época, frases significativas, aspectos e objetos característicos, datas importantes.

Os italianos nasceram para o trabalho e trabalharam duas vezes, para a nova pátria que os acolheu e para a velha pátria que angustiada lhes virou as costas. Assim sobrevivemos fortes.

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José Osmir Bertazzoni, jornalista, advogado.

 

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