The End: Albergue Noturno

José Osmir Bertazzoni

 

Há um elefante na sala. É uma bela frase anglo-saxônica que herdamos do jornalismo do New York Times, sempre seja louvada. Significa que existe um problema, um problema enorme como um elefante, que não se pode deixar de ver; mas que você não quer enfrentar. O paquiderme é o Albergue Noturno, uma casa que funciona em nossa cidade há mais de 73 anos. E essa história afeta a todos nós.

Longos 73 anos se passaram desde a fundação de uma casa que abrigaria pessoas necessitadas, cuja condições financeiras não se permitiriam pagar um hotel ou pensionato e que nenhuma família se interessasse para acolher.

A solidariedade e o respeito humano está sendo substituído por uma visão empresarial, coisa nova na política que ainda não é possível ser compreendida para nós mais velhos, desculpem-me os jovens minha ignorância.

Ao longo de mais de sete décadas, o Albergue Noturno mantido pelo Núcleo Espírita Vicente de Paula vai encerrar as atividades em 31 de dezembro deste ano, em Piracicaba. O motivo é a não renovação de convênio com a entidade pela Prefeitura, que diz que vai transferir os atendimentos para a Casa de Passagem da cidade.

Para essa nova visão empresarial no uso dos recursos públicos, destinados às associações voluntárias são superadas por uma denominação qualquer, como Organização Social (OS), que na verdade nada mais são que formas disfarçadas de terceirização do serviço público proporcionando lucros a grupos formados por seletividades e interesses. As pequenas entidades assistências que por muitos anos voltaram suas atenções para a cidade não tem mais nenhuma importância, sem convênio com o município arcam sozinhas com os custos de sua gestão. A consequência é que a filantropia na sua excelência pode acabar, vamos esperar para ver o que deverá acontecer com o Lar dos Velhinhos e outras Entidades que sempre ajudaram quem mais precisa com trabalhos voluntários e importante participação do Poder Público?

Dou um passo com diligência, não sou o primeiro da fila, mas não pretendo ficar de fora. Com este artigo junto-me às fileiras dos que pedem para manter vivas as atividades filantrópicas, os hospitais dos Plantadores de Cana e a Santa Casa de Misericórdia; o Lar dos Velhinhos e o Lar Betel e, tantas outras entidades que culminam com a participação, voluntarismo, amor, misericórdia substituindo aquilo que era dever único e exclusivo do Estado Brasileiro, cujo tributação aos cidadãos são os mais injustos e elevados do mundo.

O voluntariado em Piracicaba envolve ativamente mais de 3 mil pessoas, produz valor como parcela do PIB e como recurso moral e cultural. Especialmente as associações pequenas correm o risco de ser destruídas. Eles correm o risco de não se envolverem no bem, na doação do seu voluntariado. Na verdade, é um caminho contrário a humanismo e à solidariedade.

Que vergonha, perdemos o Lar Franciscano de Menores, a Guarda Mirim que juntas formaram profissionalmente e no caráter centenas de crianças, hoje homens bem-sucedidos, acolheu-as com amor e lhes proporcionaram profissões que as conduziram durante todas suas vidas e de suas famílias, deixando um legado imensurável.

Vamos perdendo cada dia mais, na cultura, no amor, no voluntariado e colocando que a vida só é válida se vivermos apegados única e exclusivamente no lucro, no dinheiro, nos bens materiais… Será que termos ainda espaço para o amor e a valorização do homem e da mulher como participes da fraternidade universal?

Deus nos dê o caminho!

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José Osmir Bertazzoni, jornalista, advogado

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