Divagar também cansa

Walter Naime

 

A língua portuguesa, como sabemos, é muito rica e um simples caractere com um pingo no í resulta num significado diferente.

A palavra devagar que tem conceito diferenciado de “divagar”, já está sendo muito usada no palavreado econômico brasileiro, chegando a ser adjetivado com um “quase parando”, o “devagar quase parando” uma conotação de estagnação que continua predominando nos resultados obtidos com a incidência do covid-19, essa pandemia desastrosa.

Não foi só a covid-19 que trouxe esse desastre, pois o que já vinha acontecendo, denotadas por crise política, crise de governança, crise social, crise econômica, crise educacional, crise de segurança, crise moral, crises que somadas ao covid-19, constituiu esta salada de tempestades, com temperos destemperados, servida ao povo neste momento, trazendo a fome para nossa companhia.

A pandemia do covid-19 é desastrosa na saúde pública e é mais letal quando se torna o “covid-economicus” que acaba arrasando aquilo que é primordial à saúde espiritual, a esperança.

Depois de atingido certos parâmetros de estragos em que o espírito de lutas se empenham em combater os estados de desemprego, o estado de falta de estruturas de apoio à saúde, o estado de abandono da família que se desorganiza, do estado de fragilidade e comprometimento dos governantes, do estado de miséria que se instala, a frase “devagar quase parando” atinge o seu auge chegando à “estagnação”.

Desse ponto em diante as atividades humanas decompostas e alimentadas somente pelo seu estado de resistência e esperança perde quase que totalmente as suas forças e dá chance de aparecer o estado de “Divagação das mentes humanas” onde não mais existe as acelerações e desacelerações entrando num roteiro de “lá nave vá”, da filosofia italiana ou “deixa a vida me levar” do nosso repertório brasileiro.

No desenrolar desses sentidos, na repetição do seu resultado no dia a dia, o “divagar” vai tomando conta do desenvolvimento da vida.

O “divagar” é o estado natural do movimento que não acelera nem desacelera, vai ao lento compasso do sem pressão, onde é necessário estar monitorado para que permaneça dentro do seu domínio e segurança que pode até ser representado pelo pensamento popular, “Devagar com o andar que o santo é de barro”. É uma condição espiritual, com os mesmos efeitos das procissões religiosas, que passam a ser guiadas e conduzidas pela fé, último recurso como arma de batalha.

Não podemos aceitar que a permanência desse estado perdure, porque a necessidade da reação deve aparecer para alimentar o desejo dos efeitos do “fazer” instalado na alma humana como direção à sua evolução.

A “divagação do cérebro” é uma autodefesa que a própria natureza criou para aliviar o cansaço e impotência que ao ficar estafada e entrando em letargia dá a oportunidade do mesmo se abastecer biologicamente para retomar as energias necessárias a seu funcionamento, pois se assim não acontecer o resultado da elaboração mental terá efeitos colaterais, alterando a realidade para o seu funcionamento no plano construtivo.

Como vemos tudo tem que estar em equilíbrio e os “tempos de divagação” deverão ter a sua duração estabelecida por esse equilíbrio vital ao desenvolvimento da vida.

Divagação também cansa e então é hora de colocarmos “mãos à obra” na busca das vitórias que os valores humanos requerem através da sua criatividade com a repetição dos seus feitos positivos marcados na história do existir.

Devagar com o Divagar!

Feliz Natal e colabore com um Próspero e pacífico Ano Novo 2022.

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Walter Naime, arquiteto-urbanista, empresário

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