Acreditem: agora, a Prefeitura pode fechar o Albergue Noturno

Barjas Negri

 

O Núcleo Espírita Vicente de Paulo mantém o Albergue Noturno por mais de 70 anos. Isso mesmo: 70 anos. Por meio de convênios/contratos com a Prefeitura de Piracicaba, ele desenvolve o Serviço de Acolhimento Institucional para pessoas em situação de rua e migrantes. De tão bons que são seus serviços, a cidade nem percebe os seus trabalhos às pessoas vulneráveis que se deslocam de uma cidade para outra ou vivem temporariamente na rua. Ele está na rua Prudente de Morais, 1900, fundada por Osmir Valle e, atualmente, presidido pela dedicada Terezinha Ott Valle.

Dando prosseguimento à política de desconstrução de ações culturais, educacionais, esportivas e sociais implantadas pela Prefeitura neste ano, infelizmente, agora chegou a vez do Albergue Noturno levar a “flecha certeira” da atual gestão na tentativa de decretar o seu fim, desativando mais um bom e importante programa social, que sempre contou com o apoio da sociedade piracicabana e das autoridades municipais. Seus serviços serão “desativados” e “transferidos” para a Casa de Passagem da Prefeitura.

Economizam-se recursos do apoio financeiro da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (Smads), na ilusão de que por administração direta ou por outro convênio/contrato possa fazer melhor atendimento a uma população sofrida, que muitas vezes não tem onde dormir, comer, tomar banho, seja o migrante ou pessoas em situação de rua, desempregadas, com problemas mentais ou outros transtornos. Todos precisam de uma mão amiga em momentos tão difíceis agravados pela pandemia da Covid-19.

Ainda bem que temos as ações cristãs de nossas igrejas e a generosidade dos piracicabanos, que vão continuar contribuindo com o fornecimento de alimentos, roupas, cobertores, medicamentos e até dinheiro para que esses “miseráveis” não se tornem “mais miseráveis” pelo descaso do atual poder Público municipal.

O Albergue tem uma boa estrutura para o acolhimento de até 35 migrantes ou pessoas em situação de rua: quartos, sanitários, cozinha, lavanderia, guarda volumes. Ele oferece comida e café, sendo capaz de acomodar por três dias ou mais aquelas famílias que por algum momento está desamparada. Para os migrantes de passagem pela cidade, muitas vezes são oferecidas passagem de ônibus para retorno a sua cidade de origem.

Ao longo desses 70 anos, milhares pessoas, com ou sem famílias, foram atendidas, muitas dos quais com esse apoio conseguiram se recuperar, obter um emprego e voltar a ter autoestima e dignidade. Pela minha longa vivência no setor público tive a oportunidade de conviver com muitas dessas pessoas, que recuperadas e empregadas hoje exercem boas atividades, ajudando no crescimento de Piracicaba.

Este artigo foi motivado pelo meu espanto com a falta de sensibilidade de um prefeito que, por ser rico e ter oportunidade de estudar em boas faculdades brasileiras e no exterior, teve apoio familiar e depois pelo seu próprio trabalho. Depois de fechar o Lar das Ruas, que atendida 60 moradores de rua, agora pode fechar o Albergue Noturno. Talvez, por isso, não consiga enxergar que a sociedade é desigual e que muitos pobres, miseráveis e vulneráveis precisam de um olhar mais atento e sensível dos que chegam uma cidade do porte de Piracicaba.

Nesta semana fui estimulado por uma pessoa de nível escolar superior a escrever este artigo. Em suas palavras “eu também tive muitos problemas na vida, me recuperei devido ao acolhimento que tive muitas vezes do Albergue de Piracicaba e a sua continuidade poderá ajudar outras pessoas como eu fui no passado!” Acho que Piracicaba perdeu um pouco mais do seu encanto com ações que descuidam dos moradores de rua como o fechamento do Lar das Ruas e do Albergue Noturno.

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Barjas Negri, ex-prefeito de Piracicaba

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