Nada sei (final)

José Osmir Bertazzoni

 

Ultimamente tenho me dedicado a estudar filosofia, creio que ainda busque fazer uma graduação nessa tão importante ciência humana.

Estava lendo um pouco sobre os métodos socráticos de abordagem na busca do conhecimento e acabei por deparar com a minha própria forma de agir diante das coisas que não entendo, mas busco entender.

Eu sou sabedor que tivemos um Sócrates muito famoso em nosso país, um médico, magrelo e grande, talvez um dos melhores jogadores de futebol deste Brasil, mas, por favor, o Sócrates a que me refiro é o Grego. Sócrates (470-399 a.C.) é um incontestável marco da nossa filosofia ocidental. É certo que ele não foi o primeiro filósofo, por méritos ele é conhecido como o “pai da filosofia”. Este título se deve à busca incansável ao perseguir o conhecimento, que o levou ao método socrático.

A dialética socrática consistia no objetivo de questionar as crenças habituais de seus interlocutores e, posteriormente, assumir sua ignorância e buscar um conhecimento verdadeiro. Em sua conduta filosófica, o método socrático busca afastar a doxa (opinião) e alcançar a episteme (conhecimento ou cognição).

Surpreende-nos a visão de Sócrates, ele entende que somente após afastar os conceitos falsos é que a verdade pode emergir limpa e compreensível para ser estudada. Razão pela qual seu método investigativo é fundado pela junção: ironia e maiêutica.

A primeira parte, que consiste na ironia do método socrático, tem origem na expressão grega que significa “perguntar, fingindo não saber”. Nesta circunstância o diálogo socrático possui certo caráter de negação: não aceitar as preconcepções, os pré-julgamentos e os pré-conceitos (preconceitos).

Note-se que a ironia possuía como natureza perguntas feitas ao interlocutor com o escopo de deixar evidenciado que o conhecimento, que ele julgava possuir como dogma, não passava de mera opinião ou, na melhor das hipóteses, uma interpretação parcial da realidade. Uma realidade cercada de conceitos vazios ou incompletos que não alcançava a razão.

Vivendo nesse momento da história, em que, nas redes sociais, somos submetidos a conviver com opiniões infundada, carregadas de mentiras ou “fake news”, negacionismo da ciência e até terraplanismo, precisamos aceitar e valorizar a visão de Sócrates que estabeleceu que o não conhecimento ou a ignorância é preferível ao mau conhecimento (conhecimento baseado em preconceitos). Com isso, as perguntas de Sócrates voltavam-se para que o interlocutor percebesse que não está seguro de suas crenças e reconhecesse a própria ignorância.

A ironia de Sócrates, com perguntas, em alguns elementos incomodava seus interlocutores e esses abandonavam a discussão antes de prosseguir e tentar definir o conceito, os quais jamais conseguiriam fazê-los.

Os diálogos socráticos que acabam sem se completar são chamados de diálogos aporéticos (aporia significa “impasse” ou “inconclusão”).

A maiêutica é a segunda etapa do método socrático, cujo significado é “parto”. Nessa fase, o filósofo persiste fazendo perguntas, agora com o objetivo de que o interlocutor chegue a uma conclusão segura sobre o assunto e consiga definir um conceito.

Sempre falamos que a vida e a sociedade são evolutivas e, por mais difícil que seja entender qualquer conceito, vamos perceber que ele está muito próximo a nós. Veja que o nome “maiêutica” teve como inspiração a mãe de Sócrates, Fainarete, que era parteira e o filósofo a tomou-a como exemplo e afirmava que os dois possuíam atividades semelhantes. Enquanto a mãe auxiliava mulheres a darem à luz as crianças, Sócrates auxiliava as pessoas a darem à luz as ideias.

Na visão filosófica de Sócrates, compreendia-se que as ideias já estão dentro das pessoas e são conhecidas por sua alma eterna. Entretanto, a pergunta correta pode fazer com que a alma se recorde de seu conhecimento prévio.

O pensamento do filósofo Sócrates funda-se no conceito de que: “ninguém é capaz de ensinar alguma coisa a outra pessoa, somente ela mesma pode tomar consciência, dar à luz as ideias. A reflexão é a forma de atingir o conhecimento”.

Na “maiêutica a partir da reflexão, o sujeito parte do conhecimento mais simples, que já possui, e segue em direção a um conhecimento mais complexo e mais perfeito.

Lendo São Tomás de Aquino (1226 d.C), quando ensinava um de seus alunos, o Aquinate disse: “Queres saber como saberás o que eu já sei! Você jovem me perguntas? Pois bem: primeiro siga o caminho dos córregos; depois dos riachos; adentre em pequenos rios e depois em grandes rios, somente depois siga o caminho dos mares mais profundos.” Resumindo, saímos das mais simples ideias para entendermos as coisas mais complicadas. Esse pensamento socrático serviu de base para a “teoria da reminiscência”, desenvolvida por Platão. “Só sei que nada sei” e a importância da ignorância.

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José Osmir Bertazzoni, jornalista, advogado

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