A matança dos inocentes

Camilo Irineu Quartarollo

 

Herodes manda matar as crianças de tenra idade para pegar no meio delas um recém-nascido.

O pré-natal segue com a pernada de Maria pelas montanhas até a casa de Isabel, cujo ventre arrepia com a saudação da visitante, antes da matança.

No século I, haviaa colonização romana, a resistência presente e muitas questões domésticas de fome, privações e doenças.

No atropelo da matança muitas mães escondiam suas crianças enfaixadas nas árvores, enquanto passava a cavalariça assassina de Herodes cortando ingênuos ao fio da espada. O medo de Herodes prova que qualquer popular poderia ser o rei, o construtor do próspero templo de Jerusalém era um grande covarde subserviente à Roma. Esse episódio representa o genocídio a que muitos povos foram submetidos. Na concepção de um ateu hormonal isso seria culpa divina, de não impedir a mão de um facínora humano ou, para alguns crentes, esses inocentes iriam mesmo para o céu.

Inocentes são presas fáceis de crimes que clamam aos céus e mui praticados. Há um conluio de covardia para deixar para lá as mortes silenciosas, de presépios e santuários desfigurados, enquanto um arremedo de homenagem se acomoda no canto da sala junto à lareira de um lar cristão.

Observo que nesses dias, no Brasil, os jornais expõem a profecia das mortes anunciadas, numa matança “homeopática” e não menos cruel ou covarde. Muitascrianças indígenas e ribeirinhasmorrem por superdosagem de mercúrio pela extração do ouro em garimpagem no rio Madeira, próximo a Manaus. Garimpo flutuante com trezentas dragas se posicionaram ilegalmente por vinte dias sugando água para extrair ouro, poluindo o rio. Depois do estrago de quase um mês, asautoridades federais detonarampequena monta de dragas dasquase trezentas havidas.Os“prejuízos” dos garimpeiros em ação ilegal contou com o apoio do prefeito de Humaitá. Entretanto, os povos indígenas e ribeirinhos pobres, sem água potável, peixes sadios e forma de subsistência na mata contaminada, agonizam à morte junto com a Amazônia, no flagelo das futuras gerações.

Por que matam inocentes e Jesus, que escapou da matança em criança, é assassinado aos trinta e três anos? Talvez no tempo das privações do Egito outros como Moisés foram lançados às águas até a esposa do faraó, mas um chegou para se contrapor à opressão dos egípcios. A história não se escreve por heróis nem por vilões como Herodes, mas pela ação de anônimos postos no tempo oportuno.Por certo entre os soldados de Herodes haveria alguns suscitados pela força divina a não cometer tais atrocidades contra os inocentes – a ação divina e contraditória sempre se apresenta.

Parece-me, entretanto, que certos ateus veem o deus cristão como mero demiurgo de Platão sobre um presépio bem montado. Para mim, quem assume a fé cristã luta pela vida e, sim, feliz natal.

_______

Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, autor de A ressurreição de Abayomi

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima