Dois embebedados pela soberba

José Osmir Bertazzoni

 

Não é difícil desvendar a natureza humana nas relações interpessoais. Esta semana, em uma curta conversa via Facebook com o vereador Josef Borges, hoje líder do governo do prefeito Luciano Almeida na Câmara Municipal (Piracicaba), refletimos sobre nossa atenção nos acontecimentos internos da Casa Legislativa. Desatinos nervosos e ranger de dentes, durante as sessões, discursos provocativos de tilintar nervosos causam irritação nos tímpanos das pessoas que acompanham as transmissões ao vivo pela TV Câmara e outros meios de comunicação. Temos vereadores que até para defender propostas e relatar suas epopeias o fazem como se participassem de uma briga de unhas com vizinhos, aos berros e xingamentos — condutas incompatíveis com o decoro parlamentar e a diplomacia na vida republicana (desinteligência emocional plena).

Os vereadores Fabrício Polezi e Laércio Trevisan Júnior não conseguem, por exemplo, expor suas alucinações sem atacar alguém, notoriamente apresentam-se como defensores incansáveis da verdade absoluta (válidas somente as suas opiniões). Políticos, cidadãos presentes ou pessoas que não concordam com suas iniciativas são sempre menosprezados, provocados, difamados e desonestamente perseguidos.

Um ciclo sem fim de verborragia e maledicências, ataques, acusações, ameaças e provocações transformaram-se numa forma de se fazer política.

No uso da tribuna da Câmara Municipal argumenta-se tanto na sociabilidade, nos trabalhos não mais individuais, nos trabalhos em equipes, na cooperação e na convivência racional — na contramão do discurso nunca existiu um outro momento na história em que se privilegia tanto o individualismo. Uma ideologia negacionista e doentia está se tornando cada vez mais robotizada, apática, ausente de si mesma, sufocada pela síndrome do pequeno poder e da soberba.

Tenho acompanhado o trabalho legislativo desde 1975, quando ainda trabalhava no Jornal “O Diário de Piracicaba”, em que o editor era Cecílio Elias Neto, um dos maiores e mais importantes jornalistas da nossa historiografia caipira,além de um grande professor. Nossa experiência demonstra que a única possibilidade de nossa cidade progredir é partilhando momentos relacionais ocasionados pelo diálogo em suas estruturas de representação, sendo a premência da socialização política. Inspiramo-nos primeiro em Sócrates, e depois em Platão, que registraram no conhecimento humano razões para nos convencermos de que o diálogo é o processo de busca da verdade. O filósofo Platão acreditava que o diálogo era única maneira de descobrir a própria alma, com tudo aquilo de valedouro e magnífico que cada um tem em si.

Qual a dificuldade de Laércio Trevisan e Polezi para compreenderem que a evolução do ser humano é inerente à sabedoria, que, por sua vez, só existe no relacionamento entre as pessoas. Precisamos provar que a valorização da recíproca é o autêntico diálogo?

A capacidade desses dois personagens eleitos pelo voto popular ainda possui dificuldades para entender que as palavras significam o livre fluir de ideais da inteligência cognitiva e emocional intrínsecas?

Platão era convicto de que a alma já possuía o saber em si, o ser humano já nascia com toda a sabedoria necessária para a vida. Para o filósofo, a sabedoria estaria intrínseca em cada Ser. Platão dizia que o conhecimento se consuma na investigação do que há dentro da alma e, para ser capaz disto, era necessário estabelecer um convívio cooperativo entre as pessoas. Ele defendia que somente com esta união é possível clarificar pensamentos, ideias, perceber o que de valor possui a oferecer e receber. Platão acreditava que o diálogo era o princípio fundamental para o desenvolvimento humano.

Com essa análise rasa, em poucas linhas, busco apenas registrar minha opinião sobre conceitos individuais que se cercam de opiniões corporativas ou tribais de políticos eleitos com o objetivo de socializar ideias e se apegam em falsas bandeiras para se defenderem da verdade, cultivam em si seus fantasmas odiosos e rasteiros, frutificam infâmias e cultivam inimigos para se sustentarem em uma ribalta, com finalidade exclusiva eivada em interesses pessoais, por frustrações ideológicas nas aventuras mal sucedidas durante a vida.

Quero me convencer de que este seja o momento mais propício para refletir sobre os fundamentos Platônicos, invocando a necessidade do diálogo e o que a falta dele reflete negativamente na sociedade. Por experiência, não nos resta dúvidas de que é somente quando se estabelece o diálogo que surgem as percepções e a necessidade de aprimorar a inteligência cognitiva e emocional.

Convoco a todos os vereadores, independentemente de suas ideologias políticas partidárias, para reestabelecerem o diálogo autêntico, empático, patrocinando o convívio harmônico, e a partir daí a obrigação de ouvir, observar e raciocinar sobre as ideias propostas — que cada um possa se expor, pensar, buscar compreender, criar um ponto de vista, empenhando dentro de si a potencialização da sabedoria, que só existe no partilhar de uma discussão pacífica.

Por derradeiro, ao Vereador Josef Borges: se Vossa Excelência conseguir estabelecer entre a Câmara de Vereadores, Poder Executivo e Organizações Sociais estes princípios, tenho a convicção de que seu trabalho se perpetuará, com o reconhecimento do nosso povo piracicabano.

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José Osmir Bertazzoni, jornalista, advogado; e-mail [email protected]

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