O paradoxo da escolha

Pedro Kawai

 

Por que será que as pessoas são ou estão insatisfeitas? Fui pesquisar algumas das possíveis causas que pudessem justificar qual é a razão, o gatilho que dispara a tomada de uma decisão visando à mudança.

Hoje, com a grande diversidade de escolha que temos, seja na hora de comprar um smartphone, um carro, ou um simples molho de tomate, nos deparamos com a indecisão, com a insegurança. E isso ocorre porque nos habituamos a ter padrões elevados. Posso explicar:

O molho de tomate, por exemplo. Ainda criança, quando minha mãe me pedia para comprar uma lata de molho de tomate, no mercadinho do bairro, não tinha dúvida, porque só havia o molho e o extrato de tomate. Hoje, diante da prateleira de um hipermercado, me sinto paralisado, tomado por uma incômoda indecisão, porque tenho à minha frente, várias marcas, molhos com semente, sem semente, com poupa, sem poupa, orgânico, com pedaços picados, com tomates inteiros, com 200gr, 500gr 1kg, nacional, argentino, italiano, francês… São tantas as opções que, essa variedade, ao invés de ser algo supostamente benéfico, gera frustração.

Nos acostumamos tanto em poder ter escolhas que, hoje, não sabemos o que fazer com elas. Não é raro sentirmos saudades daquela única companhia telefônica que tinha um ser humano do outro lado da linha para nos atender. Tudo era melhor quando era ruim, porque tínhamos a expectativa da mudança. Eis o paradoxo da escolha!

Escolher requer responsabilidade, porque cada opção tem suas consequências. Nossas vidas melhoraram ou pioraram nos últimos anos pelas decisões que tomamos? Ninguém é definitivo, porque a cada dia que acordamos, temos a liberdade de escolher e de decidir como será o nosso dia. Portanto, somos a consequência das nossas escolhas.

Não há mal algum em errar. O erro pode acontecer por várias causas e tem muitas origens que até são capazes de justifica-lo. Porém, a mesma autonomia que temos para escolher se saímos de casa com uma camisa de manga curta ou longa, também podemos ter para tomar nossas decisões sobre o estilo de vida que queremos ter e o modelo de cidade na qual queremos viver.

Sejamos francos: o governo de Piracicaba não decolou. Antes mesmo de completar seu primeiro aniversário, sofreu importantes baixas, tomou decisões equivocadas, dividiu a sociedade, limitou o diálogo e se tornou, talvez, uma incógnita, o tal modelo inovador de administração municipal. Mas e a tecnologia? E a modernidade? E a gestão ágil e conectada? Pois é, e aí?

Toda a frustração que se evidencia no funcionalismo, no setor empresarial, no comércio, nas instituições sociais, no meio cultural, esportivo e nas lideranças comunitárias decorre de uma escolha equivocada, provavelmente, em razão do paradoxo da escolha, daquela prateleira repleta de molhos de tomate.

Contudo, como temos a extraordinária capacidade de regeneração, de superação e de transformar adversidades em oportunidades, acreditamos que é possível mudar. Mudar a visão que se tem da cidade, mudar o grau de importância que se dá a uma instituição social, a um hospital, a um observatório, a uma pinacoteca, a uma biblioteca, a projetos esportivos, aos animais, às ruas e avenidas, aos parques etc. Todo ser humano é capaz de se superar, de melhorar como pessoa, de aprender uma profissão e de deixar o bom legado. Basta querer!

Escolher mal também nos faz crescer, nos ensina a valorizar e a reconhecer a importância do que tínhamos, do que perdemos, do que deixamos escapar. Alguns aprendem com os erros e isso é evolução. Outros, por sua vez, são capazes de cometer novos erros para justificar os anteriores, em um círculo vicioso de desacertos. Porém, sabe-se que o tempo é o senhor da razão e que até mesmo a escolha errada é melhor do que não ter escolha.

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Pedro Kawai, vereador pelo PSDB em Piracicaba, membro do Parlamento Metropolitano de Piracicaba

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