A vida em sua plenitude

Antonio Lara

 

Quando falarmos em burocracia, geralmente nos vem à cabeça de forma praticamente imediata, a idéia (noção) de dificuldades formais, desnecessárias, impostas as situações que poderiam ser resolvidas de maneira mais simples. Ela seria, por conseguinte, o elemento de travamento e limitação daquilo que se quer, precisa e deve fazer superestimando o formal em detrimento do prático – levando em consideração apenas princípios normativos – sem realismo concreto e pragmático. Não que a formalidade seja um mal em si mesmo, contudo, ao ser empregada com desmedido preciosismo, impede o bom prosseguimento de qualquer empreitada ou ação humana. Se estendermos isso à vida em sua amplitude, natureza, dinâmica, iremos nos deparar com um grande arsenal burocrático, capaz de emperrar e rudimentalizar as realizações interpessoais, nos mais variados aspectos associados a elas; o emocional é um bom exemplo. Isso provoca, em larga escala, a hierarquização dos afetos e de seus tutores, como num típico de dialética do senhor e do escravo. O que significa isso? As pessoas se prendem a restrições, como vinculadas as idéias de exclusividade, domínio, usufruto, cuja conseqüência imediata é o embrutecimento da afetividade.  Porém, é possível argumentar, de certo modo, que na ausência do burocratismo o caos impera, provocando desordem, confusão e ineficiência.

No campo emocional, o caso do matrimônio se destaca: duas pessoas estabelecem vínculos de convivência. Então, deveria haver verdadeiro equilíbrio de forças, cada conjugue exercendo, com precisão, o seu papel, sem excessos ou supressões. O problema é que toda e qualquer relação humana, sempre e incondicionalmente, é uma relação de poder. Casando, o campo de ação se restringe: uma única mulher para um único homem, pelo menos em versão conservadora. Contudo, esquecemos da convivência sob o mesmo teto – dos desgastes provocados por ela; geralmente culpamos o tempo -, das provocações, das intimidações, das cobranças. Nesse caso, o burocrático esta em nos limitarmos a “viver quase a mercê do outro”, num tipo de prisão formal. Não que o casamento seja ruim, é que as pessoas são profundamente pessoas, isto é, não é possível domesticar os instintos humanos, apenas escondendo das convenções sociais. Achar que assinar um pedaço de papel (a sentença), com algumas testemunhas (os espectadores), na presença de um juiz (o algoz), é suficiente para sermos felizes é, no mínimo, ingenuidade. Os envolvimentos amorosos carecem de liberdade, espontaneidade, fluidez, sem obrigação da convivência. Mas é preciso que se destaque: toda relação humana, na sua essência, sempre se baseia em interesses, portanto, nunca é gratuita!

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Antonio Lara, articulista, e-mail: [email protected]       

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