Sangue nas ruas

Carolina Angelelli

 

A manchete do Jornal de Piracicaba desta semana foi cruel: Em sete meses, dois ciclistas morreram em vias públicas.

 

Drama

Os acidentes comoveram os Piracicabanos e diversos protestos exigindo ciclovias foram realizados. Senti-me diretamente afetada, por diversos motivos: primeiro porque durante muitos anos de minha vida, pedalei em vias públicas e sempre cogito voltar; segundo porque as imagens fortes do último acidente circularam em mensagens via WhatsApp e chegaram nas mãos dos meus filhos, isso é agressão e desrespeito; terceiro porque o PDT de Piracicaba pautou a mobilidade urbana e as ciclovias com o merecido destaque que os temas exigem em nosso completo Projeto Municipal de Desenvolvimento, apresentado nas eleições municipais passadas.

 

Projeto do PDT de Piracicaba

Fizemos questão de pautar não apenas a mobilidade urbana, como também destacamos as ciclovias em nosso completo Projeto Municipal de Desenvolvimento pelo olhar de Mirian Rother, grande referência de nossa cidade neste assunto.

 

Defasagem

Nossa cidade possui um Plano de Mobilidade Urbana feito em 2006.

 

Novos olhares

Dentre os 12 candidatos à prefeitura de Piracicaba no ano passado, 8 apresentaram em seus planos ações para a construção ou extensão de ciclovias na cidade.

 

O que temos I?

Os números da SEMUTTRAN apontam a existência de 8.689 metros de ciclovias atualmente, localizadas em pontos como a Avenida Cruzeiro do Sul, Rua do Porto, bairro Nova Piracicaba e o distrito de Santa Terezinha.

 

O que temos II?

Um cruzamento de dados entre o mais recente censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, que aponta a quantidade de habitantes de todo o Brasil, e os números do Departamento Nacional de Trânsito – Denatran, para a frota de veículos nos municípios, mostra que nossa Piracicaba possui alto “índice de motorização”.

 

O que temos III?

Dados recentes divulgados pela Semuttran apontam um número ainda maior de automóveis de automóveis circulando em nossa cidade. São 327.175 veículos no total, entre carros, motos, caminhões e ônibus.

 

O que vai mal I?

As consequências da grande quantidade de automóveis impactam nosso trânsito gerando engarrafamentos, poluição e custos.

 

O que vai mal II?

 

Dados levantados recentemente pelo Imaflora, apontam que Piracicaba é o 11° município com maior emissão de CO2e (gás carbônico equivalente) dentre as mais de 600 cidades do Estado de São Paulo. De acordo com o Imaflora, o alto número de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) do setor de energia é resultado da queima de combustíveis de automóveis. O setor de energia lidera as emissões de GEE, com total de 887,2 mil toneladas lançadas na atmosfera, o que corresponde a 66% do total na cidade (dados de 2018).

 

O que vai mal III?

O alto “índice de motorização” indica também que nosso transporte público não vai bem.

 

O que vai mal IV?

O transporte público atual de Piracicaba possui frota defasada, sem condições de acessibilidade, sem climatização, com déficit de rota e horários em vários bairros da cidade.

 

O que vai mal V?

Neste mês de novembro foi anunciado o 4° contrato emergencial do nosso transporte público coletivo com a empresa Trans Acreana que opera na cidade sob o nome de Tupi – Transporte Urbano de Piracicaba.

 

Conhecer pra resolver

A legislação brasileira garante uma política pública teoricamente eficiente quando o assunto é mobilidade urbana. Dentre as leis que auxiliam na melhoria da mobilidade nas cidades, temos: Estatuto das Cidades; Lei 12.587/12 (que rege as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana); Lei 13.089/15 (conhecida como Estatuto da Metrópole); recente Lei 13.683/18, que trouxe pequenas alterações nas duas leis anteriores.

Essas leis obrigam os municípios a terem um Plano de Mobilidade Urbana que atenda a uma série de requisitos, como ciclovias e ciclofaixas, sustentabilidade no transporte público, proteção de áreas ambientais, entre outros.

 

Coragem pra encarar

Viabilizar novas formas de transportes é um dos principais desafios dos gestores públicos municipais atualmente. E, para adotarmos políticas públicas voltadas ao transporte por meio de bicicletas, é preciso que encararemos o desafio de enfrentarmos a disputa por espaços.

 

Próximos passos

Cientes de que a disputa por espaço nas vias públicas nos requer investimentos e estratégias, precisamos urgentemente atualizar nosso Plano de Mobilidade Urbana, porque é ele que define nossas metas de políticas públicas para os próximos anos.

 

Próximos passos II

O passo mais óbvio é a modernização das frotas de transporte público coletivo, oferecendo conforto, cobertura e preço compatível com nossa realidade econômica. Isso poderá influenciar nas escolhas dos usuários pela opção de uso do transporte público coletivo em detrimento do transporte particular.

 

Cltr c + cltr v I

Algumas cidades adotam o rodízio de placas como forma de restringir a utilização de veículos. Sendo redundante, para impedirmos a circulação de automóveis é necessário oferecermos opções de transporte dignas para a população.

 

Cltr c + cltr v II

Dentre as soluções apontadas acima, alguns geógrafos e urbanistas que se dedicam ao estudo da mobilidade urbana para melhorar o trânsito nas cidades e, consequentemente, a mobilidade urbana nos espaços públicos, ainda apontam para a flexibilização nos horários das atividades urbanas: comércio em uma hora, atividades escolares em outra. Isto para distribuir a mobilidade ao longo do dia.

 

Considerando

Por todo o exposto, por óbvio que é impossível que a situação permaneça como está, precisamos nos inserir no rol das cidades inteligentes.

Cidades inteligentes se preocupam com os deslocamentos de seus moradores e apostam em oferecer os serviços públicos municipais regionalizados. Por isso, defendi durante a campanha municipal a implantação das subprefeituras em cada região de nossa cidade. Defendi também que as viaturas do SAMU fossem dispostas de maneira regionalizada. Tudo isso para facilitar os atendimentos, poupar os deslocamentos, desafogar o trânsito, diminuir a poluição, os custos e o stress.

Planejar e facilitar é a nossa obrigação, é um respeito ao nosso sofrido povo trabalhador.

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Carolina Angelelli é a presidente do PDT de Piracicaba

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