Racismo no Brasil e a consciência negra

Camilo Irineu Quartarollo

 

Na antiguidade, os escravos do Império romano se tornam cristãos, distribuídos por toda a orbe e dominância de Roma. Oimperador Constantino se batiza,para unificação do reino sob seu poder. Na época, era escravidão de estrangeiros,celtas, germânicos, trácios, eslavos, cartagineses, etíopes e outros. Não se diferenciavam pela cor de pele.

Apóso século IV, a escravidão continua sob a cristandade numa pregação de padres conformistas. A escravidão nas Américas é predominantemente negra e a Igreja contemporizou, vejam os sermões do padre Vieira, de que os cativos deviam “aceitar a desdita como prêmio”. Consagra-se a marca da “cordialidade” brasileira, falsa na essência, tolerada na prudência. Finge-se muito na política suja, mas o que importa são os grandes negócios e, talvez, algum agrado temporário por voto popular, e nada mais.

Atualmente, ainda prevalece a “compaixão” sádica de Pilatos, pela qual o flagelo livraria Jesus e condenaria a Barrabás. Dificilmente o abastado se compadece do desfavorecido ou injustiçado, como é o caso do racismo ainda presente no mundo, e notadamente no Brasil.

São necessárias ações afirmativas. “Numa sociedade racista, não basta não ser racista. Tem de ser antirracista” – Angela Davis. As cotas raciais foram propostas em 1930 e aplicadas na Índia, EUA e entre nós. No Brasil, com privações históricas por quase quatro séculos os negros se tornam maioria, como os hebreus no Egito, e desenvolvem meios de resistência, honrando seus pais e irmãos.

Em São Paulo, Piracicaba foi a terceira cidade com mais cativos. Após a abolição, o Brasil continuou com a escravidão em algumas fazendas, com manobras para manter cativas pessoas negras livres. Os fazendeiros estavam preocupados com as indenizações próprias, não às dos cativos deixados à própria sorte e esforço. Não faltaram empecilhos como a Lei de Terras para impedir a compra pelo liberto de sua pequena e única propriedade. Só existiriam latifúndios, assim os que saíram da senzala não teriam condições de adquirir. Os quilombolas não podiam reivindicar a terra nem pelo uso produtivo e contínuo, somente pela compra. Por outro lado, criaram a lei da Vadiagem. O pobre era culpado por não ter trabalho e a “condição” de ociosidade lhe configurava o crime. Via de regra, eram tidos por ladrões, já que não tinham como se prover, comer, vestir ou calçar e, pelos pés descalços e roupas puídas ou falta delas passavam porladrões ou despudorados. Essas pessoas então retiravam-se às periferias tentando algum lenitivo à rejeição social e econômica. A polícia os mantinha longe, como suspeitos devido aos trajes ou falta de sapatos.

A Senhora Aparecida, mãe de Jesus – cuja figuração europeia é branca — emerge das águas em pedaços, e negra como mãe de navio negreiro. A metáfora, digamos divina, é a de que devamos lutar contra o racismo camuflado neste país de irmãos.

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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente, escritor, autor do livro A ressurreição de Abayomi

 

 

 

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