Parabéns, Andaime!

Camilo Irineu Quartarollo

 

Dentre as muitas peças do Andaime a mais marcante para mim foi Lugar onde o peixe para, cujo nome remete ao nome próprio da cidade, Piracicaba, de minha existência desde a infância. Tal peça é conhecida entre os artistas como O peixe. Éuma peça muito rica e sintetiza em obra a história afetiva e cultural de nossa gente. Os costumes e personagens do nosso cotidiano histórico estão na peça A Romirda, filhos e marido fazedores de pamonhas, a Dita, vizinha curiosa que bisbilhota o negócio, figuras do folclore integrado nas relações e tramas da peça. Há uma relação afetiva com os personagens concebidos e interpretados nos quadros do Andaime. Referem-se de forma familiar e carinhosa aos seus personagens, meticulosamente estudados e trabalhados como pessoa, interagindo. Isso leva a grandes e duradouras amizades entre os artistas nesse tempo de suor, lágrimas, dor, compaixão e conquistas ao personagem espontâneo e íntegro, falando ao mundo ou fazendo ironia nos mais variados gêneros da dramaturgia.

Grupo Andaime de Teatro!Acheio nome estranho. Andaimes são retirados da obra pronta. Não tinha eu a compreensão da grandeza do projeto, nem percebera a metáfora dessa obra que já dura trinta e cinco anos, em construção. O trabalho teatral do Andaime é um eterno reinventar, de projetos, apoios mútuos e desafios de vidas. Por graça e amizade estive no meio deles em algumas turnês. Pude perceber oespírito de grupo, quedesperta o fascínio dos integrantes e fãs.

Tive o prazer de viajar com eles, sentar à mesa, ver a montagem de cenário, das luzes, os ensaios de última hora, a descontração, a reunião em círculo nos minutos antes do espetáculo, com a adrenalina em alta, quando se deseja sucesso e “merda” uns aos outros. Cada apresentação é única nesse processo interior que pipoca em nós, mesmo em um figurante que de repente está dentro. Momentos que alegram minha memória espantada.

Trazer ao palco a história vivida e sofrida das pessoas – é isso que faz o teatro. No caso do processo colaborativo, pelo qual todos influem e importam, do bilheteiro ao diretor vem a linguagem mais própria da peça teatral. Isso acontece no Andaime.

Vejoatores que conheci de cabelos pretos embranquecidos e novos atores surgem, oxalá não falte gente nem deixem nossos personagens órfãos. O mundo precisa do teatro.

Parabéns pelos seus trinta e cinco anos, jovem Andaime, a todos construtores e ajudantes, atores e atrizes, iluminadores e sonoplastas, aderecistas, auxiliares de camarins, bilheteiros, compositores, carpinteiros, cenógrafos, coreógrafos, contrarregras, costureiras, figurinistas, maquiadores, diretores, relações públicas, empresas de apoio, que o teatro sempre os renove e a nós também.O que vemos nas peças vence o tempo, é eterno e podemos parar e pensar quando o tempo recomeçar a correr novamente, vida longa ao Andaime.

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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente, escritor, autor de A ressurreição de Abayomi entre outros

 

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