Polarização na política

José Osmir Bertazzoni

 

Após tantos anos de dedicação ao PDT e a sua doutrina, que me ajudaram a crescer, além de muitos amigos que fizeram a história do partido, como Luiz Carlos Lupi, Manoel Dias, Ciro Gomes e os saudosos Leonel Brizola, Darci Ribeiro, Alberto Pasqualini, entre outros, sou grato a tantos amigos que me fizeram permanecer por muitos anos nesta militância apaixonada, conquanto, hoje, buscamos novos caminhos, deixaremos o partido para seguir uma nova bandeira, sempre dentro do campo democrático progressista, agora com Marcio França, Caio França, Jonas Donizetti, entre outros importantes nomes da nossa política. Filiamo-nos ao PSB (Partido Socialista Brasileiro) em busca de novas frentes de luta, porém sem esquecer o carinho e o respeito do passado.

Sabemos que a política é a arte de praticar a democracia, que cada corrente partidária tem suas ideologias e que, muitas vezes, conflitam frontalmente com outras, porém o político tem de se manter polido, diplomático e, mesmo não concordando com seus adversários, deve seguir defendendo a liberdade de manifestação e pensamento.

Hoje se impregnou na nossa política a lama grudenta e suja do ódio e percebemos que em um país de irmãos e amigos nos transformamos em um campo de batalha sangrenta. A Covid-19 também ajudou as pessoas a se estressarem, mas a pregação da discórdia e da violência tem sido, significativamente, nosso maior desvio da democracia.

Jonathan Haidt, psicólogo social best-seller nos Estados Unidos, em The Righteous Mind (Vintage, 2012), ocupou-se da polarização que aconteceu naquele continente entre democratas e republicanos.  Entende ele que o motivo de a esquerda ir tão mal nos EUA seria a sua forma de entender a moralidade, incapaz de dialogar com outros grupos políticos. No seu conceito tudo se passa como se o homem tivesse uma espécie de paladar moral, e a intelectualidade só satisfizesse um ou dois sabores, como se o cérebro humano tivesse duas frequências receptoras e apenas uma, em cada pessoa, mantém-se ligada. Então, quando o conservador fala de patriotismo, religião e muitas outras coisas, ativa as duas antenas e o paladar completo.

O maior êxito do conservador nos EUA não é um problema em si, nem causa polarização. O problema, e a causa da polarização, é a intelectualidade progressista não ser capaz de entender que pessoas de extratos sociais diferentes têm uma moralidade diferente, ou de aceitar que não há problema nenhum com isso. Em outras palavras, há um problema de aceitação da diversidade da parte dos que as pregam.

No Brasil, tudo inverte esse conceito de Haidt, quem polariza o diálogo e a compreensão são os conservadores (compreendidos como liberais) e os progressistas, que pese as divergências entre diversas frentes, ainda dialogam entre si.

Como a política brasileira desconhecia essa polarização traumática e se defronta com ela em nossos dias, não consegue entender que caminhar juntos não é o mesmo que caminhar amarrados, faz-se necessário encontrarmos uma nova visão de momento e nos unirmos em nossos conceitos e esquecermos nossos desacertos.

A diferença que carregamos em terras tupiniquins é que nossa civilização lusitana sempre foi conduzida em um gigante continente de exploração, diferentemente dos EUA, que tiveram a felicidade de se transformarem em uma grande colônia de assentamento. Até hoje não nos livramos das nossas origens coloniais porque estamos presos à exploração do homem pelo homem, enquanto os norte-americanos já conseguem dividir suas riquezas no berço do capitalismo mundial. Nos EUA, a situação de vida dos cidadãos é nivelada olhando para cima (situação melhor), enquanto nossa civilização tupiniquim nivela sempre por baixo e se incomoda até com as empregadas domésticas que viajaram para Disneyland.

São marcas visíveis da psicologia humana que em nosso país não vivemos uma guerra de classe, mas vivemos, sim, o massacre dos mais pobres.

Nossos governos não possuem capacidade de enxergar a floresta, olham apenas suas árvores prediletas, desta forma fica difícil evoluir para um país melhor para as próximas gerações.

Basicamente, o que um bom ocidental teria de fazer é não causar dano a outrem; seria a moralidade do cuidado. Pessoas são más por causarem danos, e são boas por fazerem o bem a outrem. Na maioria das outras culturas, há outras bases para a moralidade, como, por exemplo, a santidade e a autoridade (as pessoas são boas porque desempenham papéis relevantes numa religião, ou porque são respeitosas com um grupo).

Eu acredito na democracia e em nosso país, mas reconheço que ainda estamos praticando canibalismo para alcançarmos o poder.

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José Osmir Bertazzoni, Advogado e Jornalista; e-mail: [email protected]

 

 

 

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