O sentimento de culpa e as suas consequências morais

Alvaro Vargas

 

Em nossa jornada terrena, nem sempre agimoscorretamente quando somos testados através dos inúmeros desafios com que nos deparamos. Nossas atitudes guardam estreita relação com a maturidade de nosso senso moral. Mais evoluídos, agimos nos conceitos éticos e morais que regem as normas sociais, em convivência pacífica e fraterna junto aos nossos semelhantes. O oposto ocorre, quando nos deixamos levar pelas ações equivocadas devido ao nosso atraso moral. Essas iniquidades, quando praticadas, podem ter um efeito devastador em nossa consciência. Assim como o nosso organismo envia alerta em forma de dor ou aumento de temperatura corporal, em resposta a um processo infecioso, quando erramos, surge em nossa consciência um sentimento de culpa, cobrando uma mudança de comportamento. Segundo estudiosos desse assunto, os indivíduos podem responder variadamente a esse estímulo psicológico. Enquanto alguns desenvolvem uma “culpa terapêutica”, saudável pelo estímulona reparação do ato equivocado, outros geram uma “culpa patológica”, de sérias consequências.

Na história do cristianismo, temos dois exemplos que ilustram distintamente a forma de responder ao sentimento de culpa. Um deles, foi a traição de Judas. Na verdade, ele simplesmente desejava apressar o triunfodo Cristianismo no mundo, e não o de eliminar seu Mestre, que amava profundamente (Boa Nova, cap. 24, Humberto de Campos e Chico Xavier).Judas confiou nos rabinos do templo e foivilmente enganado. Ao dar-se conta de sua ação ignominiosa, arrependeu-se, mas ao invés de assumir a responsabilidade do seu ato, buscou a fuga equivocada através do suicídio. Poderia ter seguido outro caminho, buscando vivenciar os ensinamentos de Jesus, reparando assim o seu erro. Naquele mesmo dia em que se deu a prisão de Jesus, outro apóstolo que traiu O Mestre Nazareno foi Pedro, ao negá-lo três vezes. Arrependeu-se amargamente por sua covardia, mas diferentemente de Judas,exerceu a “culpa terapêutica”, vivenciando mais intensamente os postulados cristãos. Fundou com Tiago, João e Felipe, a “Casa do Caminho”, nos subúrbios de Jerusalém, exemplificando a caridade conforme os postulados cristãos.

O arrependimento, conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por si só. Na visão espírita, “três condições são necessárias para apagar os traços de uma falta e as suas consequências: arrependimento, expiação ereparação, respectivamente” (O Céu e o Inferno, cap. VII, item 16, Allan Kardec).Temos inúmeras reencarnações, e devemos compreender que os nossos erros são consequências do nosso atraso moral. O sentimento de culpa ou remorso, devem servir apenas para despertar em nós o senso de responsabilidade pelos equívocos praticados, buscando a reparação.Essa ação pode ser empreendida junto às pessoas prejudicadas ou com outros indivíduos necessitados, pois perante as leis morais da vida,o que importa é a caridade praticada. No caso de Judas, ele se deixou levar pela “culpa patológica”, errando duplamente, tanto ao se deixar enlear pelas artimanhas do Sinédrio judaico, traindo Jesus, como se suicidando.

Felizmente a caridade de Deus é ilimitada. Ele não deseja o fim do pecador, mas a sua redenção. Conforme o espírito Humberto de Campos (Crônicas de Além-túmulo, cap. 5,Chico Xavier), ele encontrou Judas na erraticidade, já redimido por séculos de reencarnações purgatoriais. Asua última estância na Terra foi como Joana D’Arc,quando reencarnou na França com mandato mediúnico no século XV, sendopor isso (e questões políticas) condenada à fogueira pelo tribunal eclesiástico da Inglaterra sob a acusação de heresia, bruxaria e possessão demoníaca. Segundo Judas, “desde esse dia, em que se entregou por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que o aviltavam, com resignação e piedade aos seus verdugos, fechou o ciclo das suas dolorosas reencarnações na Terra, sentindo na fronte o ósculo de perdão da sua própria consciência”.

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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita

 

 

 

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