Nova marcha sobre Roma

José Osmir Bertazzoni

 

O fascismo marcha novamente pelas vias romanas encarnado na patética personalidade de um presidente brasileiros ineficaz, inepto e incompetente, que leva o Brasil para a mais profunda crise humanitária, com falta de trabalho (15 milhões de desempregados); inflação passando de dois dígitos (maior dos últimos 30 anos); redução em mais de 45% do poder aquisitivo do povo; retirada de direitos dos trabalhadores; 32 milhões de desalentados e uma crise econômica e sanitária nunca vista desde a implementação da república.

Um fascista das bananas em terras italianas.

Entendendo a desastrosa trajetória do fascismo na Itália. Primariamente, o fascismo surgiu como movimento político (depois se tornou um partido), em 1919, sob a liderança de Benito Mussolini. Em seus primórdios, o fascismo constituía-se apenas como movimento denominado “Fasci Italiani di Combattimento”. “Fasci” significa um feixe de lenha, que era símbolo do Império Romano. Somente em 1921, o fascismo tornou-se oficialmente um partido, chamado Partido Nacional Fascista.

Inspirados em simbologias e personificações militares, fascistas tinham por objetivo ascender ao poder por vias eleitorais e, nitidamente, defendiam o ideal de utilizar a força para defender seus objetivos. A popularização do fascismo na Itália, em 1920, aconteceu exatamente graças ao uso da força — por meio dos “camisas negras” (grupos paramilitares), os fascistas atacavam violentamente seus opositores.

Um estado de ódio e violência fez o fascismo tornar-se popular na Itália. Logo, o socialismo era visto como um grande mal por muitos italianos, e a ação dos “camisas negras” — atacar os socialistas e combater os sindicatos e greves — fez o movimento ganhar fama. Isso se deve ao fato de que, na Itália, os industriais e os proprietários de terras (agronegócios) defendiam a manutenção de baixos salários e, com a repressão dos socialistas pelos fascistas, esse objetivo era possível.

O fascismo cresceu compondo com partidos liberais e nacionalistas de direita liderados por Giovanni Giolitti (político liberal). Essa associação aconteceu durante a eleição de 1921, a qual permitiu aos fascistas conquistar 35 cadeiras no Parlamento Italiano, que possuía um total de 535.

Esse foi apenas o prelúdio…

O fortalecimento dos quadros do partido fez com que seus membros, particularmente Benito Mussolini, começassem a sonhar com sua ascensão ao poder. A estratégia de Mussolini passava por obter o apoio dos três grupos mais influentes na política e na sociedade italiana: a monarquia, a Igreja e os industriais. A estratégia de controlar a violência (por ele instigada) não funcionou, os “camisas negras” (grupo de apoiadores do fascismo) perpetraram ataques e agressões de toda sorte.

Em agosto de 1922, os fascistas haviam tomado o poder de algumas cidades italianas, como foi o caso de Milão, Trento e Bolzano. Nesse período, os fascistas também reprimiram violentamente uma greve convocada pelos socialistas. Mesmo com tantas demonstrações de força, a violência dos fascistas era tolerada pelo governo italiano e aplaudida por seus seguidores.

Nessa toada, os fascistas colocaram em curso um plano para a tomada do poder na Itália. Mussolini havia pensado em realizar a Marcha sobre Roma, decisão que foi oficializada em 16 de outubro de 1922. A ideia do plano era ocupar importantes prédios em cidades no centro e norte da Itália e, também, ocupar importantes vias nos arredores de Roma.

Nada que escrevemos até agora é diferente das metodologias e formas adotados pelo governo Bolsonaro. O fascismo brasileiro começa a agir da mesma forma escrita na cartilha mussoliniana, passeios de motos com simpatizantes chamando a atenção de multidões para mostrar popularidade; convocar apoiadores para encontro em praias famosas e movimentadas, menosprezar a imprensa e atacar a democracia e suas instituições. Portanto, temos a convicção de que o bolsonarismo se coaduna à nova ordem fascista.

Fascismo de Benito Mussolini:

Fim das estruturas democráticas na Itália;

Fim dos partidos políticos;

Controle dos sindicatos;

Perseguição aos opositores políticos;

Imprensa sob censura;

Vamos nós, por derradeiro, adentrar aos fatos que nos levam ao convencimento de que essas semelhanças entre o fascismo e o bolsonarismo não se trata somente de coincidências.

Uma “Nova Marcha sobre Roma” ocorreu noventa e nove anos após Mussolini. Em 29 de agosto 2021, Jair Messias Bolsonaro e seu estafe, cujo objetivo era participar do Encontro da Cúpula do Clima, apenas fez turismo, com passeios pela Itália às custas do sofrimento do nosso povo, e mobilização de brasileiros que vivem nas terras italianas.

Para deixar sua marca registrada, Bolsonaro ataca jornalistas de diversos veículos brasileiros, entre eles a BBC News Brasil, credenciados para a cobertura da reunião do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo), quando tentaram se aproximar do presidente para entrevistá-lo. Bolsonaro foi questionado sobre os motivos de sua ausência na COP26 (Cúpula do Clima na Escócia) e sobre a greve dos caminheiros prevista para esta segunda-feira (1º/11) no Brasil, entre outros temas. Mas ele não respondeu a nenhuma das perguntas durante sua caminhada de menos de dez minutos, registrada por câmeras de jornalistas, assessores e apoiadores.

De acordo com a agenda do presidente, ele não participou da reunião sobre clima na Escócia, e seguirá para outro compromisso pela Itália: uma visita à cidade Anguillara Veneta, onde nasceu seu bisavô — em suma, foi fazer turismo com dinheiro público.

Entretanto, a presença do chefe de Estado brasileiro enfrentou resistência no país. A Diocese de Pádua, na Itália, fez um apelo ao presidente do Brasil e disse que o título que receberá de cidadão honorário de Anguillara Veneta causa “grande constrangimento”. Devido à homenagem, ativistas protestaram e picharam “Fora Bolsonaro” na sede da prefeitura da cidade italiana.

O presidente Jair Bolsonaro também não foi recebido pela prefeitura de Pádua. O prefeito, Sergio Giordani, já antecipou que “estará fora por compromissos assumidos” e não poderá receber o governante brasileiro.

Além disso, ativistas do movimento Levante pela Justiça Climática (Rise Up 4 Climate Justice) publicaram uma nota na qual afirmam que “a figura de Bolsonaro representa perfeitamente o modelo capitalista, predatório, destrutivo e colonialista contra o qual lutamos”.

O jornalista e correspondente internacional do UOL, Jamil Chade, também destacou, em sua coluna, que o Itamaraty busca “construir pontes” com outras nações do G20, mas a credibilidade do país foi afetada pela gestão Bolsonaro. Internamente, o governo brasileiro também foi ridicularizado pela última viagem internacional, quando membros da delegação com covid-19 foram aos Estados Unidos.

Consequências:

Mussolini não representou a queda da Itália de imediato em um regime ditatorial, nem Bolsonaro representa, mas a história nos mostra que tudo é possível em terras tupiniquins, como foi possível nas terras italianas. Essa situação é implantada aos poucos a partir das ações do governo. Logo, em 1925, Mussolini autoproclamou-se ditador da Itália e colocou em prática um governo totalitário. Como será aqui no Brasil se o povo não acordar do romance “paixão por coturnos e baionetas” …

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José Osmir Bertazzoni, jornalista e advogado; e-mail: [email protected]

 

 

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