Penoleti Mendes
Alguém já se deparou com propostas de mudança de prédio de importantes aparelhos culturais, como o MASP, a Pinacoteca do Estado, a Sala São Paulo de Concertos (todos na capital paulista), o Museu do Amanhã (Rio de Janeiro), ou o Museu Oscar Niemeyer (Curitiba)? Chegam a parecer absurdas.
Aliás, se, de repente, ouvimos o simples vocábulo “MASP”, o primeiro processamento de nossa mente é o da imagem de uma arquitetura arrojada, suspensa por imponente alça vermelha, sobre um famoso vão livre, tudo na simbólica Avenida. Impressiona a notória associação entre aparelhos culturais e seus prédios, que não raramente é usada até na comunicação visual dos projetos.
Por que então achamos existir razoabilidade na ideia de mudança de endereço da nossa Pinacoteca Municipal Miguel Dutra? Certamente sabemos que não é por imaginar que ela seja menos importante para Piracicaba que o MON é para Curitiba, por exemplo.
Tampouco acreditamos que, mesmo respeitando a importância de tramites cartorários para o desenvolvimento social, a burocracia esteja em condições de dar vereditos sobre destino tão importante para o conjunto da população.
Além de prejuízos de identidade, vejo na remoção do acervo (de um prédio para ele especialmente projetado) o risco de sinalizar improviso com a questão, colocando em descrédito futuras iniciativas do tema cultural, o que originaria verdadeiro desmonte na área.
De todas as razões que nos chegam, confesso dificuldade em crer que estão tratando de política pública, dado o caráter demasiadamente simplista dos argumentos.
A ideia de que no Engenho o acervo será mais visitado esbarra em importante questão técnica: de onde vem o racional de que o número de visitantes seria balizador de êxito de políticas culturais?
Se assim fosse, a questão seria muito simples de se resolver. Em vez de buscar gestores públicos qualificados para a cultura o Município poderia simplesmente terceirizar atividades, a custos muito menores, para badalados promoters de eventos.
Certamente eles triunfariam com recordes de bilheteria se apenas trabalhassem para trazer, com recorrência, espetáculos com celebridades nacionais do humor, que custariam muito menos que toda a estrutura de formação. E a retenção cultural da proeza…?
Políticas públicas culturais precisam primordialmente se preocupar com a formação do cidadão, com os benefícios do espírito crítico ao desenvolvimento social, com a aplicação da sensibilidade apurada, com oportunidades diferenciadas, dentre tantos fatores maiores e mais nobres do que a frieza numérica seria capaz de demonstrar. Tal qual ao esperado para as políticas de esporte, que possa o movimento cultural ocupar eventual tempo ocioso de nossos jovens cidadãos.
Para quem acredita no verdadeiro poder das artes para aprimorar uma sociedade, o desmonte cultural que pode representar a mudança do acervo da Pinacoteca é ainda mais frustrante por conta de atender interesses (legítimos) de Forças de Segurança. O constante aparelhamento policial se faz necessário por conta da precariedade no desenvolvimento social, por vezes ironicamente originada pela pobreza cultural oferecida.
Que possa, portanto, a majestosa correnteza de poucos quarteirões abaixo da Pinacoteca afastar a equivocada ideia da transferência. É uma maneira de evitarmos futuramente a necessidade de pedir que ela afaste o arrependimento.
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Penoleti Mendes, presidente do Diretório do PT em Piracicaba