É possível compreender melhor as revelações divinas?

Alvaro Vargas

 

Em episódio descrito nos Evangelhos, Jesus se encontrou com o doutor da lei, Nicodemos, quequestionou: “Mestre, bem sabemos que vindes de Deus, pois somente com a luz da assistência divina poderíeis realizar o que tendes efetuado, mostrando o sinal do céu em vossas mãos. Emprego a minha existência em interpretar a lei, mas desejava receber a vossa palavra sobre os recursos de que deverei lançar mão para conhecer o Reino de Deus!Jesus esclareceu: primeiro que tudo, não basta que tenhas vivido a interpretar a lei. Antes de raciocinar sobre as suas disposições, deverias ter-lhe sentido os textos. Mas, em verdade devo dizer-te que ninguém conhecerá o Reino do Céu, sem nascer de novo. Nicodemos replicou: como pode um homem nascer de novo, sendo velho? Poderá, porventura, regressar ao ventre de sua mãe? Novamente o Mestre instruiu: em verdade, reafirmo-te ser indispensável que o homem nasça e renasça, para conhecer plenamente a luz do reino!Demonstrando surpresa o doutor da lei perguntou: entretanto, como pode isso ser?Jesus retrucou: és mestre em Israel e ignoras estas coisas? (Boa Nova, cap. 14, Humberto de Campos e Chico Xavier).

Nicodemos fazia parte de uma elite intelectual judaica. Membro do Sinédrio, assembleia de juízes judeus que decidiam os aspectos religiosos e questões administrativas de Israel, eram considerados sábios pelo conhecimento e zelo que detinham com relação ao judaísmo.Eleera uma pessoa de boa índole, e identificou Jesus como sendo um espírito de grande elevação moral. Entretanto, mesmo com os seus estudos, não conseguia compreender o nosso processo evolutivo, e essa limitação foi prontamente identificada por Jesus. O Mestre esclareceu que ele necessitava “sentir” os textos sagrados antes de interpretá-los a luz do raciocínio. Jesus se surpreendeu com a ignorância de Nicodemos acerca da reencarnação, pois esse processo fazia parte dos dogmas dos judeus, embora com o nome de ressurreição. Mesmo que os judeus tivessem apenas vagas noções, e ainda incompletas,sobre esse mecanismo, seria esperado que esse rabino não tivesse nenhuma dúvida nessa questão.

Em contraste com o desconhecimento do doutor da lei sobre a reencarnação, o humilde colegiado galileu estava plenamente familiarizado com esse processo, conforme episódio registrado nos evangelhos (Mateus, 16:13-23; Lucas, 9:18-24), em que Jesus questionouos discípulos sobre o que o povo comentava sobre a sua identidade.Existia a crença em que Elias (900 a.C.) voltaria e anunciaria o Messias (Malaquias 4:5-6). Jesus então anunciou: “Elias já veio, mas eles não o reconheceram e fizeram com ele tudo quanto desejaram. Da mesma forma, o Filho do homem irá sofrer nas mãos deles. Os discípulos entenderam, então, que era a respeito de João Batista que ele havia falado” (Marcos, 9:13). João Batista era primo e contemporâneo de Jesus, respeitado como um profeta pelos judeus, morto a mando do rei Herodes. Vale ressaltar que nesse evento, Pedroidentificou Jesus: “tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mateus, 16:17).Sobre essa revelação, Jesusindicou quea mesma não ocorreu pelas vias intelectuais normais, mas pelasintonia mental que o apóstoloestabeleceu com os planos espirituais mais elevados.

Em nosso processo evolutivo, desenvolvemos primeiro o nosso intelecto e na sequência os sentimentos. Nicodemos havia avançado muito em conhecimento, mas não em sentimentos, conforme advertido por Jesus. Para compreender as leis que regem o universo é necessário a nossa transformação moral, vivenciando o amor. Diferentemente dos doutores da lei, presos a dogmas e rituais, Pedro, um simples pescador,possuía elevado nível do senso moral. “Deus ama a simplicidade em tudo. O homem que se atém às exterioridades e não ao coração é um espírito de vistas acanhadas. Dizei, em consciência, se Deus deve atender mais à forma do que ao fundo” (OLivro dos Espíritos, Q. 673, Allan Kardec). Ao estimular a fé raciocinada, O Espiritismo permite uma melhor compreensão sobre as leis divinas, estimulando a nossa vivência conforme a simplicidade exemplificada por Jesus.

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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita

 

 

 

 

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