Piracicaba e o burro empacado

José Osmir Bertazzoni

 

Nas querências de Piracicaba, muitas coisas estão acontecendo, nada trivial para a cultura e o desenvolvimento desse rincão sagrado. Nem a luz do Sol é a mesma! Nem o Rio Piracicaba, que com suas águas corta a “city” ao meio — antes vigoroso e pujante, hoje encontrando-se as pedras e lodos.

Na política e na vida, a história nada é “como dantes no quartel de Abrantes”, tudo se modifica, como um jogo de Playmobil, em especial o “city action”, quando cidade não para! Como repensar sua história?

Principalmente, voltando as ações do presente para uma colheita mais próspera no futuro, objetivando contemplar a todos os cidadãos. Os nossos representantes do povo, a maioria, não se identificam como povo, e nunca se enxergaram como plebe, sentem-se como elite dominante, burguesas, tal como os capitães do mato que entregavam à escravidão os seus irmãos libertos.

Questões fundamentais precisam ser discutidas, não apenas mudanças de prédios públicos como: Biblioteca, Pinacoteca etc., com o único escopo de dar uma destinação rápida e visível aos encantados escombros do Engenho Central, um projeto fácil e que aguça vaidades pessoais. A contrário sensu, temos de buscar alternativas que estão próximas, como os investimentos com instalações de painéis ou placas solares (Energia Solar Fotovoltaica) para tornarem-se sustentáveis os serviços públicos, colocando energia solar gratuita nos próprios prédios municipais, e, assim, estimulando a população e investidores a fazerem igual.

Precisamos refazer o transporte público, melhorar os ramais intermodais e utilizar ônibus plataformados – para a frota urbana, veículos modernos e confortáveis, diferentes dos que hoje estão disponibilizados ao povo, montados sobre carroceria (chassis) de caminhão, que, além da acessibilidade reduzida (ou) nula, ainda consomem combustíveis fósseis poluentes ao revés de combustíveis renováveis — é fato indiscutível que vivemos no maior polo produtor de etanol do planeta.

Nosso sistema de abastecimento de água remonta a mais de 100 anos e as últimas providências tomadas para sua melhoria foram realizadas sob o comando do saudoso prefeito João Herrmann Neto. Em que pesem ocorridos investimentos públicos, os frutos destes estão sendo entregues à iniciativa privada (Águas do Mirante, por exemplo), que enche as burras de dinheiro às custas do povo sofrido, com serviços de baixíssima qualidade e sem nenhuma sintonia com o futuro.

O SEMAE (Serviço Municipal de Água e Esgoto), nossa respeitada e importante autarquia municipal, está sendo sucateada dia a dia; os serviços públicos urbanos de coletas de lixo, resíduos sólidos, cortes e podas de árvores já foram entregues para empresas que não possuem compromissos com nossa querência, somente vivem o objetivo da lucratividade.

A Saúde, que sempre foi motivo de críticas por faltar profissionais que desejassem ingressar no serviço público (desestímulo causado pelas últimas reformas constitucionais), hoje foi deslocada ao interesse privado sem qualquer questionamento ao povo laborioso, usuários deste serviço.

A figura do lucro abusivo superou a figura da mais-valia e o empobrecimento da nossa gente é agigantado pela ganância do sistema financeiro monopolizador da nossa economia, nenhuma visão ou escopo eles possuem sobre nossos miseráveis abandonados pela sociedade nas ruas, sem trabalho ou dignidade.

Oportunistas vindos de outras bandas (verdadeiros estelionatários vulgares e popularescos), hoje, possuem acesso aos prédios públicos como se fossem autoridades. Os vereadores comprometidos com a Noiva da Colina são proibidos de exercerem suas prerrogativas de “popularibus sumptibus” são barrados! Perdeu-se a vergonha e, os interesses pessoais superam a visão coletiva…

Minha manifestação neste artigo ocorre por uma justa razão e fatos que a agravaram em contrato terceirizado no nosso município — Unidade de Saúde do Bairro Piracicamirim — em próprio municipal entregue a uma empresa OSS (Organização Social de Saúde) que não está cumprindo e não vai cumprir com o contrato firmado com o Poder Público, abandonou mães e crianças sem atendimentos médicos especializados, momento que o Vereador Cássio Luiz, no exercício de suas prerrogativas, foi impedido de adentrar ao recinto público para mostras as deficiências dos serviços que não estavam sendo prestados.

A OSS, que segundo o vereador Laércio Trevisan “teria a qualidade do hospital israelita Albert Einstein”, foi flagrado no domingo (10 de outubro de 2021): faltavam médicos e prestadores de serviços necessários à execução do contrato. Flagrando crianças e mães abandonadas à própria sorte, ao mesmo tempo que um “jagunço” com cara de hiena faminta, uma “new version” dos Guardiões do Crivella Caipira, transitava nos prédios públicos e nas esferas de governo como autoridade, envergonhando a história do nosso município.

Assim começo a notar que gestão pública se assemelha a um “burro velho quando empaca” … E empacado está!! Obras e investimentos são tratados como maquiagem para mostrar governança, nada de real acontece na metropolitana “city place where the fish stops”.

A “House of Commons”, nossa Casa de Leis, não é levada a sério por um contingente eleito pelo voto democrático, mas que não aceita a democracia como forma de governo, alguns lunáticos, outros fascinados por seu “eu interior” e poucos se salvam… Tenho convencimento de que alguns se salvam!

É justamente na visão temática do empacamento do animal burro que fazemos uma analogia com uma história contada por meu “nonno” Pietro Bertazzoni, uma vez que a fábula a respeito do animal assemelha-se com a situação dos mandatários dessa querência: “um velho jumento que bebia água e empacava, empacava e bebia água…  Seu velho dono, um dia, resolveu mudar o trato com o animal e lhe deu cachaça e por consequência o burro empacava e bebia, bebia e empacava e a única mudança foram as ressacas diárias do animal…Resolveu então dar-lhe Gengibirra, refrigerante típico da nossa região e o animal, ao revés de arrotar, empacava, bebia e peidava…. AH! O que fazer? Cansado, o velho dono do animal resolveu pentear o burro, fazer-lhe as unhas, pintar sua pelagem em tom mais agradável, colocou algumas fitas coloridas com muito brilho, melhorando sua aparência, e, como nada mais tinha a fazer, vendeu o burro maquiado e viveu feliz para sempre…”

Moral da História, toda maquiagem (vício redibitório) é precária, elas ocultam os reais defeitos e problemas, conquanto, eles reaparecerão mais danosos em um futuro não muito distante.

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José Osmir Bertazzoni, jornalista e advogado

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