Eu acho

Francys Almeida

 

Vivemos a era da ignorância, onde ser burro é moda e falar bobagem é opinião. E isso me faz lembrar Nelson Rodrigues: “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos.”

Diante de uma opinião técnica, embasada, produto de estudo científico, ouvir alguém dizer “eu acho” é uma tormenta dessa época.

O médico estuda quase 10 anos, somando especialização, aí vem um vereador e quer impor “tratamento precoce” ou uma opinião sobre como tratar. Um perito emite um laudo, aí vem alguém dizer que “na minha opinião…”

Algo surreal, não dá para entender, quem anda em escolas já deve ter visto pais afrontando professores e os chamando de “comunistas”, “pedófilos” ou procurando “kit gay” na sala de aula. O culto a ignorância virou febre.

Na era da pós-verdade, fatos não importam, se tenho minha narrativa, posso condenar quem eu quero e sem o devido processo legal, e tudo que for contrário à minha opinião, ainda que afronte ao Estado Democrático de Direito, se torna coisa de “petista”. Gente de esquerda.

É muito mais confortável ser burro, tudo é culpa do PT, comunistas, Globo, Congresso, Governadores…

“As redes sociais deram voz a uma legião de imbecis” (Umberto Eco). Esta frase retrata bem a nossa realidade, um povo sem conhecimento político, sem educação, sem discernimento, opinando sobre tudo: vacina, tratamento, vírus, ciência… Imagine o que será do nosso país em alguns anos!

Só a educação de qualidade,  com as mais plurais ideias para debate, com abertura para todas as classes sociais, pode efetivamente mudar o país. Até lá, o “eu acho” vai adoecendo o país, matando vidas com negacionismo e comprometendo a própria democracia. “Em minha opinião”, realmente, virou doença.

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Francys Almeida, bacharel em Direito, síndico profissional, militante partidário (PCdoB) em Piracicaba

 

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