José Osmir Bertazzoni
Era uma vez… Um Oleiro que resolveu se transformar numa autoridade.
Sua olaria era grande e produzia tijolos sobre tijolos para a construção. Porém seu objetivo era se transformar numa autoridade, se utilizara de um burrico, seu grande conselheiro.
E assim iniciava uma longa estória de vaidade que perduraria por quatro anos.
O Oleiro, aconselhado pelo burrico, se candidatou a edilidade, com o apoio da comunidade, acabou atingindo seu objetivo se elegendo na base aliada ao prefeito municipal.
Na olaria, o Oleiro tinha trabalho difícil: moldar e queimar os tijolos. Seu burrico girava em torno de um amassador de barro de forma circular e continuada por longas horas.
Assim, nem Oleiro, nem seu burrico estavam satisfeitos com tanta poeira, barro e calor das fornalhas que queimavam constantemente, dias e dias seguidos; trabalho pesado e de pouca notoriedade.
O nome do Oleiro foi exposto para ser votado e, se eleito, seria a autoridade tão desejada.
O lema de sua campanha era de “de tijolo em tijolo vamos melhorar o vilarejo”.
Vieram as eleições e ele se elegeu vereador. Seu semblante, ao tomar posse, era de uma autoridade vaidosa e prepotente. Sua carteirada era sentida em todo serviço público. Suas indumentarias já não eram mais roupas velhas e sujas de barro, mas ternos de marcas e muita pose.
Seu conselheiro burrico, após alguns dias da posse, se sentiu traído e abandonado, pois seus conselhos já não eram mais acolhidos pelo Oleiro, que se distraia paparicando as autoridades que lhes cercavam.
Assim, o burrico saiu pelo bairro e começou a difamar o Oleiro que tinha se aproveitado dele e de seus esforços garantindo sua eleição e, quando conseguiu, esqueceu quem lhe carregara no lombo.
Num certo dia, o oleiro, muito preocupado com essas infâmias, resolveu colocar o burrico para carregar os tijolos no lombo e atender seus fregueses.
Lá se foram o burrico e o entregador pelas ruas, seguindo em direção das obras de construção.
O burrico “pensou”: “eu estava cansado de tocar o olaria e sempre andar em volta do mesmo ponto. Finalmente estou passeando”. Olhava alegre para todos os lados até perceber que a carga era pesada e suas forças se esgotariam.
Durante os trajetos, o burrico observaria pessoas que até o cumprimentavam com um bom dia ou boa tarde. Algumas se expressavam pela forma bruta que recebia sua por incentivar o Oleiro a ser autoridade “cruz credo”.
E assim por quatro anos o burrico seguia da olaria para o lugar da entrega e voltava para o Oleiro que nada dizia, sequer recebia um obrigado.
Novamente o burrico pensou, falou em voz baixa:
– Legal! Quatro anos passam rápido e duvido que o Oleiro retorne a ser uma autoridade, sua imagem estava desgastada por sua conduta submissa ao mandatário do vilarejo.
Foi bem assim. O Oleiro perdeu a eleição e foi ignorado por seus quatro anos de edilidade e o burrico, aposentado por sua velhice, indignados, ambos param, o Oleiro triste e o burrico empacado, para chamar a atenção e ver se alguém os notavam. Nada mais aconteceu.
Moral da história: Na vida quando ocupamos cargos, temos projeção pública e títulos; temos que saber que todos são temporários e o amanhã a Deus pertence.
Qualquer semelhança com pessoas vivas e mortas é mera coincidência.
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José Osmir Bertazzoni, jornalista e advogado