O ‘Control Z’ da nossa história

Pedro Kawai

 

Vinte anos atrás, Piracicaba se organizava para implementar sua Agenda 21, adotando o planejamento estratégico e a participação da sociedade como ferramentas de gestão para construir um cenário desejável para as décadas futuras.

O Piracicaba 2010: Construindo o Futuro foi, em grande medida, um roteiro de como os governos municipais poderiam, ou deveriam implementar políticas públicas, amparados pela sustentação de especialistas, mestres e doutores, que trabalharam voluntariamente neste que foi, talvez, o maior e mais bem elaborado projeto de sustentabilidade para o nosso município, em toda a sua história.

A lógica dessa proposta, lançada em 1999 pela Caterpillar e, incorporada como parte das ações dos governos que se sucederam, foi dividir a cidade em eixos temáticos e, com a contribuição de segmentos a eles vinculados, como sindicatos, associações, instituições de ensino superior, de pesquisa e extensão, além de representantes da iniciativa privada e do poder público, indicar projetos estruturantes para a prospecção dos cenários futuros, com vistas à consolidação de uma cidade próspera, desenvolvida, inclusiva e justa socialmente.

Mais tarde, com a criação da OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) Pira 21, o plano estratégico ganhou sua primeira revisão, em 2006, com o apoio decisivo de um grupo constituído por 28 empresas. Seis anos mais tarde, a parceria feita com a Universidade Metodista de Piracicaba e seu programa de Pós-Graduação em Administração, garantiu a terceira revisão das metas até o ano de 2025, ou seja, para daqui a quatro anos.

A cidade de vinte anos atrás era bem diferente da que temos hoje. Isso se deve, obviamente, ao desenvolvimento da nossa sociedade que, em grande medida, foi impulsionado pelos modelos de governos democráticos e sociais desde então. PT e PSDB se alternaram no comando de Piracicaba, oferendo importantes contribuições à cidade e ao nosso povo. O projeto Beira Rio é um bom exemplo, que se iniciou pelas mãos do ex-prefeito José Machado e teve continuidade nos governos tucanos, em especial de Barjas Negri.

Outra marca dessa visão de cidade e não de governo, foi o próprio Engenho Central, desapropriado e tombado na administração petista, e pago pelo governo tucano, que também investiu em acessibilidade nos pisos e sanitários adaptados, reformas nos barracões, e deu ao espaço, um teatro novo para ampliar as atividades culturais do município.

Nós, que vivemos diariamente em Piracicaba, talvez não tenhamos o mesmo olhar de alguém que volta para cá vinte anos depois. A cidade cresceu, se desenvolveu, se tornou referência em tecnologia aplicada ao agronegócio, ganhou um parque automotivo, novas indústrias, empreendimentos imobiliários, intervenções importantes em sua malha viária, parques, escolas, unidades de saúde, hospitais e centros culturais. Mais que isso, foi elevada à condição de polo de uma região metropolitana, com 1,5 milhão de habitantes.

Contudo, esse ritmo de crescimento, caracterizado pelo diálogo e pela parceria com todos os segmentos sociais parece estar se enfraquecendo, exatamente pela falta de planejamento de um governo sem planos, desnorteado e vingativo que, aparentemente, coloca interesses pessoais acima do bem comum. Um governo omisso que se recusa ao diálogo, que se esconde do debate e governa pelas redes sociais, bloqueando críticas, como em um monólogo sem plateia.

Talvez, entorpecida por uma nova realidade imposta pela pandemia da Covid-19 e, atônita por tantos absurdos vindos da capital nacional, nossa sociedade esteja sem reação.

Perdemos o hospital veterinário, perdemos os projetos culturais nos bairros, os convênios com entidades esportivas, o Observatório Astronômico e, ao que tudo indica, perderemos também o Aquário Municipal, a Pinacoteca e a nossa Biblioteca Municipal, como ocorreu com as outras duas, na periferia.  Porém, o que é mais desalentador, é que                 continuamos a perder, sem que ao menos nos seja apresentado um novo projeto, uma nova proposta, ou uma nova história, como foi prometida em campanha. Aliás, importante lembrar que mudanças podem ser tanto para melhor, quanto para pior, e que essa história poderá não ter um final feliz.

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Pedro Kawai, vereador pelo PSDB, membro do Parlamento Regional de Piracicaba

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