Barjas Negri
Em 1981, quando ocupava o cargo de secretário municipal de Educação, tomei conhecimento da intenção de se montar em Piracicaba o Observatório Astronômico Municipal. A proposta foi apresentada pela dedicada servidora municipal Lurdes Fuzetti e pelo professor Elias Salum. Estimulei para que dessem continuidade ao assunto, em que pesasse a sua complexidade.
Dez anos depois, na gestão do prefeito José Machado (PT) estabeleceu-se um convênio entre a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Educação, da Associação dos Amadores de Astronomia de Piracicaba (AAAP), e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). Os estudos inicias avançaram e, em 1992, é inaugurado o nosso Observatório Astronômico Municipal, num prédio de 150 m2, localizado na Rodovia Fausto Santomauro, km 3. Local que parecia distante, mas adequado aos seus propósitos. Ele leva o nome de Elias Salum
Nesse local foram instalados modernos e importantes equipamentos, como um telescópio, atendendo bem seus visitantes e, em especial, alunos das redes públicas municipal e estadual. O Observatório se constituiu num importante equipamento de ensino, pesquisa, cultura, ciência, lazer e turismo da cidade e região. Na época era considerado o quarto observatório municipal instalado no Brasil, contribuindo com conhecimento astronômico e espacial, porque permitiu a realização de trabalhos sobre planetas, sol, lua, cometas etc., e onde se aprendia que a Terra não era plana.
As visitas não se restringiam apenas a estudantes, uma vez que se organizavam atendimentos a instituições sociais, entidades da Terceira Idade, clubes de serviços etc. O Observatório era importante no auxílio de projetos levados às escolas, como exposições que contribuíam para o conhecimento de fenômenos como eclipses lunar e solar. Há que se destacar o importante trabalho do astrônomo Nelson Travnik em todo esse período, além de um grande entusiasta do projeto.
Neste ano de pandemia, a Prefeitura de Piracicaba desiste do projeto, suspende as verbas e suas atividades e informa que estuda um outro local para o observatório. Quem sabe no Engenho Central? Aliás, parece que tudo cabe no Engenho. Com isso, acabou 30 anos de história, como parece que vai ocorrer com os 50 anos da Pinacoteca Municipal Miguel Dutra e os 10 anos da nova Biblioteca Ricardo Pinto Ferraz.
Por coincidência ou não, assistimos ao desmanche de algumas ações públicas municipais que tanto auxiliaram os estudantes das redes públicas de ensino municipal e estadual, filhos e filhas de trabalhadores da indústria, do comércio e dos serviços de nossa cidade Começou com o encerramento do cursinho pré-vestibular municipal gratuito, chegando ao fechamento de duas bibliotecas comunitárias (Vila Industrial e Parque Orlanda) e agora o Observatório Astronômico Municipal.
É uma pena e, ao que nos parece, não vai parar por aí. Seria bom que nossas autoridades estudassem um pouco mais a nossa história para ver o bom desempenho de muitos estudantes das redes pública e privada nas Olimpíadas Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA). Desta maneira, daria para entender a importância de termos alunos disputando e ganhando medalhas no OBA, como Camila Barrilao, Victor Abdallah Lotaif Bruno, Samuel de Lima Ribeiro, Fernanda de Mori Delábio, Lucas Barboza de Mori, Lucas Rossato entre outros.
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Barjas Negri, ex-prefeito de Piracicaba