Você trabalha ou somente é pastor?

Rodolfo Capler

 

Sempre quando vou a algum estabelecimento comercial e por motivo necessário me apresento como pastor, me fazem a seguinte pergunta: “Você trabalha ou somente é pastor?” Normalmente reajo com bom humor e educadamente respondo que o pastorado é o meu único ofício. Em muitas ocasiões, essa pergunta revela falta de informação das pessoas a respeito da função pastoral. Geralmente a indagação é feita por membros de igrejas. É quase que geral a compreensão de que pastores são pessoas que levam a vida na maciota e que enriquecem à custa dos outros. Inclusive há pessoas que aspiram o pastorado por acreditarem piamente nisso.

Confesso que me entristeço profundamente quando percebo esse tipo de pensamento por parte das pessoas. O pastorado não é uma profissão! O pastorado é uma função exercida no contexto de uma comunidade cristã local. Pastores são pessoas chamadas por Deus e reconhecidas pela congregação local para exercerem a nobre função de cuidar, encorajar, instruir e liderar os fiéis.

O ofício pastoral é gratificante, porém, ao mesmo tempo trabalhoso e esgotante. Em setembro de 2015, o site norte-americano Business Insider com a ajuda do instituto de pesquisas de mercado de trabalho Bureau o Labor Statistic fez um levantamento das profissões mais estressantes. Ou seja: profissionais que estão expostos a altos níveis de estresse, pressão ou trabalham em um ambiente hostil. A função do líder religioso ficou entre as mais desgastantes. Isso acontece porque um líder religioso (no caso o pastor) é alguém que além do tempo semanal de expediente em sua igreja local (sim, muitos pastores tem horário de expediente), trabalha a todo tempo e precisa estar disponível a qualquer hora.

Pastores aconselham casais que estão à beira do divórcio, oficiam funerais, cerimônias de casamento, apresentam crianças e visitam os enfermos. Pastores são surpreendidos de madrugada por telefonemas de pessoas desesperadas. O pastor precisa ser de tudo um pouco; de psicólogo a consultor financeiro. Afora essas tarefas rotineiras, o pastor precisa encontrar tempo para se dedicar à organização da igreja e ao estudo da Bíblia e a oração, o que demandam muito tempo, dedicação e esforço.

Isso é apenas um resumo sem detalhamentos da rotina de um pastor. Pastores trabalham e trabalham muito! Espero que após a leitura deste pequeno artigo, ao encontrar um pastor, você não lhe faça a pergunta que sempre ouço das pessoas: “Você trabalha ou somente é pastor?”.

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Rodolfo Capler, teólogo, escritor, pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP; e-mail: [email protected] / Instagram: @rodolfocapler

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